São possibilidades que lhe são apresentadas: o propósito é você conduzir uma reflexão sobre como se comporta quando está à frente de um grupo em atividades que pedem para ser lúdicas, instigantes, plenas de reflexões de oportunidades de aprendizado.
Deixe claro aos participantes que eles se encontram em um laboratório de vivências – um ambiente propício para se exercitar um diversificado repertório de experimentos-, tendo o direito de testar possibilidades, cometer erros e refletir, depois, sobre a experiência e seus aprendizados.
Não se deve iniciar a atividade dizendo: “Agora nós vamos fazer um “quebra-gelo”, ou então: “Para vocês descontraírem um pouco, nós vamos…”. Ao proferir uma dessas frases poderá acabar com o encanto da situação e com o suspense no grupo (a surpresa pode constituir um forte aliado).
Antes de solicitar voluntários – se for o caso -, explique o tipo de atividade a ser desenvolvida, principalmente se for uma técnica que exija habilidades especiais (esforço físico, encenação, capacidade de memória, agilidade corporal, exercícios de solo), deixando-os à vontade para decidir se irão participar.
Aqueles que não quiserem ou puderem participar convide-os a serem observadores com o compromisso de percorrerem os diferentes grupos, anotando o que lhes despertar o interesse, além de algumas instruções específicas suas: virtudes de cada participante e do grupo, abordagens e posturas inadequadas, lideranças, omissões, conflitos.
Explicite as regras do jogo: em que consiste a atividade, o grau de participação esperado. Você pode omitir os possíveis mecanismos de avaliação (às vezes, falar antes acaba estragando a surpresa).
Atue como observador: não queira ser um participante. Não diga “Nós” como se você fizesse parte daquele grupo: você é um Facilitador, que deve interagir com o grupo, dentro das possibilidades do papel que desempenha, ficando, porém, do “lado de fora”. É uma maneira de manter a isenção, além de se preservar na hora de eles vivenciarem papéis e, assim, não se deixar contagiar pela disputa.
Se a atividade for por tempo determinado, informe que você sinalizará quando faltarem alguns minutos para o seu término. Se você quiser enfatizar a importância da gestão do tempo não informe a duração da atividade, por uma das razões abaixo, pois você quer:
– avaliar o grau de maturidade ou de conhecimento do grupo;
– esperar a maioria dos grupos terminar a tarefa para informar que se esgotou o tempo para a execução da tarefa;
– observar se os participantes tentam negociar a duração da atividade;
– observar mais um pouco, já que a atividade está tão interessante;
– usar o fator surpresa para informar o término da atividade como forma dos treinandos se educarem para a utilização racional do tempo (depois, sugira ao treinando que lance mão de algumas estratégias para o bom uso do tempo disponível, tais como: fazer um Brainstorming, elaborar um planejamento mínimo e desenvolver de forma concisa o que se pede para, caso o tempo o permita, voltar ao assunto e complementar o conteúdo);
– interromper a atividade antes que todos consigam concluí-la, para verificar em que estágio chegaram e qual a velocidade de resposta de cada um;
– observar a reação/postura emocional do grupo diante de diferentes desafios, ou ao ter a atividade interrompida abruptamente.
Após o final da dinâmica, depois de ouvir os participantes, você passa a palavra aos observadores, informando-lhes o foco a ser dado e o tempo disponível para as observações.
Não use palavras no diminutivo (“filminho”, “joguinho”), pois são autodesqualificantes. Cuidado com frases que revelam autodepreciação: “Vou tentar…”, “Não sou o mais indicada para estar aqui…”, “Vai ser meio chato”; “Acho que não vai ficar bom”.
Nesse papel de observador terá melhores condições de chegar a pertinentes conclusões (anotações e observações). Escreva sinteticamente as observações e conclusões mais interessantes: a memória pode falhar. Em certos momentos você pode delegar a um participante a condução da atividade (será um treino para ele, ao mesmo tempo em que você terá mais liberdade para observar).
Seja um discreto diretor do espetáculo, com forte atuação nos bastidores. Avise-lhes que, se julgar necessário, você interromperá a atividade, para repassar novas informações, como se fosse um diretor de um espetáculo.
Sempre que possível, delegue a um treinando a condução da atividade, repassando-lhe as regras: é uma forma de deixar os holofotes para eles, além de permitir que vivenciem papéis de liderança. Escolha para liderar, algumas vezes, treinandos que não fiquem à vontade nesse papel (por não gostarem ou por timidez). Deixe que eles aconteçam do jeito que souberem ser, independente de estarem sendo bem-sucedidos (cuidado apenas com excessos, para não trazer riscos à imagem deles ou constrangimentos).
Nos casos em que a atividade irá transcorrer em várias rodadas, e há espaço para um clima de “competição”, informe resultados parciais dos grupos, como forma de:
– estimular quem está à frente para garantir a liderança;
– instigar a reação dos que não estão se saindo muito bem;
– observar a reação dos grupos quando trabalham sob pressão;
– observar que tipo de resposta os grupos oferecem à medida que são informados de suas performances;
– descobrir quais grupos apresentam flexibibilidade e resiliência, conseguindo mudar suas estratégias e serem mais bem sucedidos daí em diante na empreitada;
– permitir aos grupos saberem qual o referencial de uma boa performance.
Se constatar que a atividade está perdendo a graça em função dos extremos (grupo que dispara na liderança ou grupo que fica muito para trás) crie novas regras e novas formas de pontuação para revigorar a atividade e dar chance de reação aos que não estão sendo produtivos.
Fique atento nas observações feitas pelos participantes, para poder incluí-las em seus comentários alguns aspectos interessantes a serem valorizados: para ser produtivo em grupo é preciso se conhecer bem, fazer bom uso da autocrítica, ser criativo, saber fazer concessões, ter humildade, valorizar o planejamento, a pesquisa, ter consciência das suas limitações e das suas possibilidades, ser participativo, questionador, saber respeitar os limites do outro, ter espírito de corpo, contribuir para a sinergia do grupo.
Ao final de cada vivência reúna os participantes em um círculo e abra espaço para os depoimentos. Busque a participação valorizando a espontaneidade: deixe-os, durante um certo tempo, livres para abordarem o que julgarem mais relevante. Assim você poderá observar a capacidade de autocrítica e o nível de percepção da realidade dos participantes, além do grau de maturidade do grupo.
Extraia do grupo o máximo de significados em cada atividade desenvolvida. À medida que os depoimentos acontecem, corrija as possíveis distorções de foco de abordagem, direcionando-os para os propósitos a serem atingidos.
Enfatize os casos em que grupos criaram obstáculos na execução da atividade (“Isso não é permitido”), com “barreiras” não verbalizadas por você e que tiveram impacto limitante no resultado. Evidencie que, em termos de regras, é teoricamente permitido tudo o que não é claramente proibido.
Escolha um momento de passar a palavra aos observadores. Conforme o caso informe-lhes o foco a ser dado e o tempo disponível para as observações.
Caso a discussão não evolua para o propósito da sua realização, eis algumas sugestões de tópicos a serem incluídos na discussão – pode ser, também, por escrito – , como forma de conduzir a uma maior reflexão:
– qual o propósito da atividade;
– como foi a participação dele;
– como foi a liderança do grupo;
– o que contribuiu para o bom resultado;
– o que atrapalhou para o resultado;
– quais os aprendizados;
– o que faria de diferente se tivesse a oportunidade de participar novamente da atividade.
Uma reflexão sobre um princípio sociológico muito interessante e apropriado para as dinâmicas e vivências: “Quanto pior, melhor”: quando estiver conduzindo alguma vivência comportamental não se assuste se o resultado for caótico ou deixar a desejar: aprende-se muito com o que “não se deve fazer” no ambiente de trabalho.
Se houver inadequações na condução, prepare-se para saber extrair o melhor de cada um desses aspectos: confusão no desempenho dos papéis, precipitação e imaturidade, não-conclusão da atividade, dificuldade na compreensão do que era para ter sido feito, performance pífia, egoísmo exacerbado.
Quando as coisas dão errado torna-se, pois, muito mais fácil se trabalhar o conteúdo e as dificuldades do grupo (em termos de relacionamento, liderança, gestão, comunicação, etc.): ficarão mais claramente identificáveis os pontos nevrálgicos de postura, comportamento, liderança, relacionamento, de gestão, que merecerão, daí em diante, uma abordagem diferenciada.
Afinal de contas cada participante tende a deixar transparecer muito do seu modo de ser nessas atividades: se ele não se organiza, se não planeja suas atividades na vivência, é muito provável que faça e aja da mesma forma na sua vida pessoal e, principalmente, no seu ambiente de trabalho. Aí estará sua preciosa chance de fazê-lo ver as inadequações, propiciando-lhe uma chance de reflexão e uma forma prática de aprendizado.
Limite-se, encerradas as participações do grupo, a complementar as idéias relevantes não abordadas, os ganhos e os aprendizados, dando um fecho estruturado ao assunto, deixando, de preferência, para o final da atividade, um desfecho de impacto – uma mensagem, sugestões de possíveis aplicações práticas, ganhos do grupo.
O propósito da reciclagem é de todos, incluindo você; não perca de vista que também está ali para aprender. Aproveite da melhor forma as oportunidades que aparecerem: poderá ser alguém melhor para si mesmo e estará mais bem preparado e à vontade nas próximas oportunidades semelhantes de intervenção.
Livro publicado: COMPORTAMENTO: INQUIETAÇÕES & PONDERAÇÕES
Livraria Logos (vendas pelo site)
E-mail de contato: : lourival.cristof@uol.com.br
No Facebook: Lourival Antonio Cristofoletti No Instagram: lourivalcristofoletti
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