A médica geriatra Ana Claudia Quintana Arantes, autora do best-seller “A morte é um dia que vale a pena viver”, participou recentemente de um excelente podcast da Jovem Pan chamado “45 minutos no primeiro tempo” e uma de suas falas considero uma reflexão de extrema importância para todos nós: o valor imenso da vida frente à Economia. Ou seja, só existe Economia se antes houver seres humanos íntegros e saudáveis.
“Quando se fala das consequências da vida social que a gente vai ter: profissional, financeira, econômica, administrativa… ela vai sofrer consequências do luto.
Quem vai faltar no trabalho não é só a pessoa que morreu. Quem vai faltar no trabalho é a pessoa que morreu e todo mundo que a amava. Que, se for trabalhar, não vai trabalhar direito.
E existe uma dificuldade muito grande de compreensão. Às vezes me parece até uma limitação cognitiva de compreensão das pessoas que estão totalmente achatadas naquela dimensão da Economia. Então, presta atenção, turma da Economia! Mortos e zumbis existenciais, porque perderam seu sentido de vida. Essas pessoas não fazem rodar a Economia. Você pode fazer propagandas incríveis de vendas, se você tiver perdido a pessoa que você mais ama, você vai quebrar a televisão! Você não vai querer comprar nada. Então, não vai fazer sentido você ter dinheiro no Banco ou você ter uma cama com colchão NASA ou você ter um carro blindado. Se você se trancar dentro do carro blindado, você não vai conseguir se proteger da dor da saudade da pessoa que você ama. Não existe proteção contra essa dor, e a proteção contra essa dor é a gente poder vivenciar uma vida que tenha sentido, que tenha espaço de afeto, que você possa mudar a vida da pessoa para melhor e deixar pistas na vida dela de que você existiu e que valeu a pena você ter estado no mesmo tempo e na mesma dimensão que a existência dela.”
Ana Claudia Quintana Arantes
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São palavras que dão um chacoalhão na nossa consciência, e espero de coração que possa trazer uma perspectiva nova para os que estão com essa visão achatada, olhando exclusivamente para a Economia como números, gráficos, estatísticas e tendências. Essa visão não cabe mais no mundo que está vindo pela frente…
Reforço aqui o que ouvi de várias pessoas lúcidas e de grande sabedoria. Elas dizem que não precisaríamos estar passando por essa crise tão aguda e tão dolorosa se nós, seres humanos, fôssemos, de fato, mais humanos, e olhássemos uns para os outros nessa dimensão mais ampla e menos utilitarista.
No sistema mega capitalista no qual estamos inseridos, os trabalhadores da base da pirâmide são vistos como máquinas, como meras engrenagens para fazer a Economia girar. Os ricões multimilionários estão revoltadíssimos porque grande parte dos trabalhadores estão em casa se resguardando e protegendo suas vidas e suas famílias.
Não pode haver uma boa economia num país que dizimou milhares ou talvez centenas de milhares de seus habitantes. Perceba como a teia das relações humanas é algo complexo!
Cada pessoa que morre interfere no âmbito social, econômico, familiar, emocional, espiritual de no mínimo umas 20 a 30 pessoas (colocando bem por baixo ok?). Se for uma pessoa de destaque, atuante na vida de muitos, esse número cresce para os 3, 4, 5 dígitos…
Dessa forma, o impacto emocional da morte de centenas de milhares de pessoas, leva facilmente ao impacto na vida de milhões. É uma matemática muito simples! Uma criança de 5 anos consegue entender isso…
Portanto, é preciso cair por Terra todo e qualquer discurso que diga “As pessoas devem voltar a trabalhar para não agravar a crise econômica” ou “Precisamos voltar à normalidade”…
Como assim voltar à normalidade? Se tem algo que afirmo e continuarei afirmando é: não voltaremos para o mundo como estava antes da pandemia. Grave essas palavras!
Os que sobreviverem a ela terão que mudar de postura, precisarão ser, de fato, mais humanos. Ou então, não terá valido de quase nada uma crise tão avassaladora e com a morte de tantas pessoas.
Jamais esqueça que pela etimologia, a palavra Economia significa “gestão da casa” ou “gestão do lar”. Como você tem gerido a sua casa? Não apenas a física, mas a casa do seu corpo, do seu coração, das suas emoções? Responda com sinceridade a esse questionamento ok?
Vamos preservar a vida, pois esse é o bem mais precioso que temos. Estando vivos e junto das pessoas que amamos. Passada toda a pandemia, teremos muita energia e criatividade para trabalhar, e assim, a Economia pode se restabelecer. Já o oposto disso, que algumas pessoas defendem, só pode gerar um caos ainda maior. Saibamos usar nossa inteligência para optar pela vida…
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