Uma fotógrafa brasileira foi vítima, recente, de racismo e registrou BO contra um homem que lhe chamou de escrava e perguntou qual o seu preço no mercado. A vítima também foi chamada de “mucama”, “saco de lixo” e “crioula maldita”. O agressor usou áudios de cunho racista via whatsapp, a polícia civil investiga o caso.
O livro Casa-Grande & Senzala do sociólogo Gilberto Freyre caracterizou a escravidão no Brasil como constituída de senhores bons e escravos submissos. Porém, o mito da democracia racial de Freyre faz uma leitura irreal do nosso passado escravista, com resquícios em pleno século 21, quando lemos uma notícia dessa gravidade.
No período escravista a dignidade das mulheres negras era violentada, agredindo a sua honra moral e sexual, por uniões impostas a força, sob a seiva do medo e da incerteza, pelas quais as crianças eram concebidas sem pai, continuando como escravas. Não houve nenhum desenvolvimento racial e cultural dessa miscigenação.
O Brasil recebeu mais de um terço de todos os africanos escravizados e foi à última nação ocidental a abolir a escravidão. O que significa, que nosso o país teria recebido cerca de 38% a 44% de africanos forçados a deixar o seu continente. E nesses 130 anos deu seguimento à normalização do racismo.
O que simboliza que a nossa herança escravocrata segue hoje impregnada no caráter de alguns indivíduos com o seu ódio racista, sobretudo, contra as mulheres negras. Assistimos com frequência os racistas liberaram seus surtos histéricos – contra a presença – das pessoas negras, em estádios, shoppings, bancos, escolas, hospitais ou entre outros espaços públicos.
Além disso, têm ocorrido muitos casos pelo país com o surgimento das redes sociais, onde internautas usam de forma revoltante esse espaço para soltar os seus “berros” de injúria racial, causando repercussão junto à população, que se revolta contra tais ofensas racistas.
O que observamos no Brasil é um arranjo do racismo institucional. A população negra tem menos acesso aos serviços de educação, saúde, transporte, habitação, isto é, menos acesso ao direito à vida. São milhões de afro-brasileiros que vivem sob as mesmas condições precárias que seus ancestrais, denunciando que o Estado brasileiro oferece poucas perspectivas à comunidade negra, reproduzindo o ciclo de violência e preconceito.
Os dados são reais e aumentam a cada década. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, o percentual de negros assassinados no país é 132% maior que o de brancos e o Censo do IBGE de 2010, apurou que, dos 16 milhões de brasileiros vivendo em extrema pobreza, 4,2 milhões são brancos e 11,5 milhões são pardos ou negros.
A herança dos hábitos hierárquicos da casa-grande é uma fantasma que se recusa a desaparecer do inconsciente coletivo de alguns setores da sociedade brasileira. O ódio racista se manifesta em discursos velados ou escancarados, que não aceitam a ascensão social e econômica dos negros e negras no esporte, na cultura, na ciência, na política ou em outras áreas.
Diante disso, precisamos falar sobre racismo na sociedade brasileira, a fim de reiterar que isso é um crime intolerável. E relembrar, que acabaram os privilégios e a dominação de 300 anos da casa-grande. Os racistas que vigiem suas línguas perversas, porque o racismo é crime hediondo e inafiançável, conforme determina a Constituição Federal.
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