Cheguei a uma fase da minha vida que aos olhos do mundo pareço não dar valor ao que me rodeia nem ao que devia constituir preocupação.
A postura afeminada, um tom de voz mais baixo, um andar mais cauteloso, livros menos radicais, amizades comportadas, ter os pés no chão, e etc.
Recentemente, estranhei a ausência de lágrimas ao sair de uma relação amorosa onde tanto me dediquei, amei e fiz planos. Namoro terminou e no dia seguinte segui sorrindo, leve e solta e com uma vaga para o próximo (aceitei um convite antigo para jantar). Sempre escolho amar embora os recomeços sejam doídos e difíceis.
Já não me importo com o que vão pensar ao verem-me descalça a caminhar na estrada. Na verdade, o lugar da minha mente onde armazenava o peso na consciência tende a reduzir. Para mim, desde que não faça mal ao outro, a liberdade é ainda um campo virgem por se experimentar.
Cheguei a esta fase onde quando as lágrimas me invadem permito que elas beijem meu rosto, me permito sentir dor e chorar, gritar e abraçar.
Distribuo elogios aos rostos que me transmitem energias positivas, colho flores na rua, ajudo pessoas a atravessar, converso com a senhora das badjias, em fim, os meus dias são sim finalmente poesia.
E ainda bem que estou assim e aqui.
Preciso de mim como nunca precisei e este exercício de me pertencer e ser inteiramente minha tem evoluído todos os dias
Tenho um “check list” de auto cuidado e sigo este ritual diário de amor próprio de forma minuciosa, tirando os dias da ressaca, claro!
Estou numa relação tão intensa, tão saudável e tão madura e responsável comigo mesma, tenho realizado o que desejei que pudesse ser um amor dado, fazendo de mim o amor da minha própria vida.
Cuido do meu corpo, seleciono meus pensamentos, escolho o que dar valor, dou-me prazer e por vezes escolho amar o outro sem que este amor signifique tirar um pouco de mim.
Estou egoísta sim e tenho me amado, ligado pra mim mesma, saído sozinha pra apreciar o sol, tomado cerveja no quarto e rido dos meus tombos, tenho lido tudo e todos. Tenho rezado, me encontrado e construído a cada dia as mulheres que fui, as mulheres que sou e os seres humanos que hão de vir de mim.
Enia Lipanga