Embora eu tenha tido experiências em cidades e países diferentes ao longo da vida, minha criação primária aconteceu em uma cidade pequena. Não faltaram para mim o alimento, tive acesso a escola e ia a missa como iam as pessoas do meu meio. É claro que existiam dificuldades, mas elas aconteciam dentro de um ambiente razoavelmente protegido socialmente por amigos e família. Essa criação deixa suas marcas e ainda afeta minha percepção de realidade em diversos momentos (para o bem e para o mal). Entretanto, sempre que um olhar moralista ou a “culpa católica” ameaça deturpar minha compreensão de mundo, eu paro e reavalio minha posição. Quem está opinando sou eu ou o que sobrou de um olhar mais provinciano e pouco realista? Se, por exemplo, eu não gosto de cantoras sertanejas sem roupa no palco, isso não as torna erradas e eu certa, se não me agradam algumas posturas mais agressivas nas mais diversas áreas, isso não me torna a dona da verdade em absolutamente nada (pelo menos não necessariamente). Se hoje o mundo tem outras posturas e ouvimos funk, temos Pabllo Vittar representante da melhor música do ano isso não me obriga a gostar de nada, mas também não exime a minha responsabilidade de ponderar minhas reações e pensamentos para que eu não reproduza conceitos que hoje, em 2018, podem ter se tornada ultrapassados.
Radicalidades não me interessam simplesmente porque as pessoas têm o direito de escolha de gosto pessoal independente do que eu gosto. Essas mesmas pessoas têm seus gostos porque tiveram outras criações, outras vidas e outras realidades (Talvez até bem mais interessantes do que as minhas. Quem sabe?). Por que será que é tão ofensivo para tantos lidar com a diferença? Afinal, por que tanto sentimento de ameaça da “moral e dos bons costumes” perante o novo? Não seria um moralismo ultrapassado e fora do tempo falando mais alto? Seria medo de ver seus castelos de cartas desmoronar? Como disseram hoje meus amigos durante um cafezinho: “Você pode ser solidário a uma causa, mas isso não te permite sentir o que o outro sente na pele. Você não sabe o que é racismo se não for negro, mesmo que tenha empatia.” Penso que está na hora de baixarmos nossos narizes empinados e entendermos que as pessoas merecem respeito em suas escolhas, gostos e lutas. E se você não gosta disso, isso é algo que você deveria pensar lidar, pois muitas cartas do castelo já estão a voar.
Imagem de capa: Haywiremedia/shutterstock
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