Às vezes, diante de tanta possibilidade do que assistir, eu não sei por onde começar. Se vejo um dos milhares de filmes disponíveis, a tal série comentada. Ainda, falta-me tempo e olhos para acompanhar todas as novas produções e revisar as antigas. Por isso, eu procuro uma companhia que saiba contar histórias. Não quero Shakespeare, nem Machado de Assis, preciso de alguém que não se importe com escolas literárias, apenas, somente, conte o que lhe aconteceu, o que poderia ter acontecido, em troca prometo ser um assíduo espectador.
Procuro uma companhia que saiba sentir a vida. Que veja as coisas mais supérfluas, o mais fútil do ambiente e aponte. Eu preciso de ajuda para reconhecer novas bobagens. Tenho tédio das bobagens repetitivas que invento, ter outra mão para guiar minha cabeça pelo mundo dos bobos. Disso, nós retiraremos as mais profundas revelações brincando. Sentir a vida, segundo meus pensamentos, é voltar a brincar quando as outras crianças cresceram.
Procuro uma companhia que tenha problemas. Que saiba admitir não estar bem e peça um pouco do meu silêncio, me chame para ajudá-la nessas tarefas emperradas do dia. Eu irei, mesmo sem saber tanto, sendo especialista de nada, estarei lá. Vivendo o problema como se fosse meu, ao ver a solução, eu terei um prêmio mais bonito que as medalhas olímpicas; participar da vitória de alguém.
Procuro uma companhia que me deixe estar apaixonado. Não enxergue meu sentimento como se fosse uma doença, não é um convite a cadeia, a uma prisão eterna enquanto dura. Eu fujo desse massacre. Apenas paixão, vontade de ver, de ouvir, de receber respostas e perguntas. Tenho em mente que ninguém é minha propriedade, pois o que eu procuro é uma companhia. Que saiba, também, treinar beijos e toques. É difícil algum sair pronto. E se sair, que permaneça o treinamento, por que parar o que estar evoluindo?
E tenha erros gramaticais, falsos fatos históricos, desconhecimentos necessários. Inteligência não reside nos dados, mas na capacidade de saber que pouco sabe. Não me encantam os doutorados, embora eu os aplauda, prefiro a dissertação sem referências da ABNT, dita com a boca suja de coisas de uma lanchonete.
Procuro uma companhia disposta a fazer feliz a si mesma. Não tenho a pretensão de ser luz de uma vida. Que tenha amigos, amigas, que saiba passear e conhecer novas pessoas. E ao voltar, no reencontro, olhe para mim como um papel em branco e escreva suas inéditas histórias.
Não tenho ânimo para caçar. Andar por aí, com as armas da conquista carregadas, mirando belos alvos na noite. Já tentei e minha pontaria é péssima. Aceitei minha habilidade de não ser caçador feroz atrás de presas. Ao invés de uma caça cheia de estratégias de guerra, eu prefiro uma coincidência de buscas para que haja encontro.
Porque, no fim, só vale a pena procurar uma companhia que me procure.
Imagem de capa: boonchoke/shutterstock