Formada em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e com pós-graduação em terapia cognitivo-comportamental pela Universidade Estácio de Sá, a carioca Maria Cristina Ramos Britto, com 34 anos de experiência na área, ensina aos pacientes a emagrecer usando a cabeça. Depois de estudar a relação entre o emocional e a “fome”, percebeu que, muitas vezes, as pessoas não precisavam de comida, mas sim de terapia.
Você ensina como emagrecer usando a autoestima, mas de onde veio a ideia?
A terapia cognitivo-comportamental busca a compreensão do modo como o indivíduo pensa, visando identificar e modificar padrões de pensamentos. Mais importante do que os acontecimentos é a forma como a pessoa pensa e sente o que vivencia. A mesma situação vai ser vivida de forma diferente por duas pessoas, mesmo que as circunstâncias sejam idênticas. A autoestima é a forma como a pessoa pensa a si mesma, depende do grau de confiança que ela desenvolve, a crença de que se tem valor e merecimento, de que se possui qualidades e se é merecedora de afeto e respeito. A autoestima desenvolve-se desde a infância. A criança que é reforçada em seus pontos positivos, que recebe amor e respeito e é tratada com dignidade, aprende a gostar de si mesma e desenvolve autoestima. Mas aquela que não recebe esses cuidados tem grandes chances de crescer insegura do próprio valor, podendo, inclusive, se achar feia, mesmo sendo bonita. Isso é baixa autoestima e vai influenciar a forma como ela vai se relacionar consigo mesma, com os outros e com o mundo. Ela pode desenvolver ansiedade, depressão, dificuldades de relacionamento e compulsões, como a compulsão alimentar, na tentativa de lidar com um desconforto emocional, resultado de uma história de falta de amor-próprio, de autoconfiança que ela precisa compensar de alguma forma. Então, ela come sem fome, sem necessidade, para escapar dos problemas emocionais.
Em que momento você percebeu que a sua teoria tinha fundamento?
Os fundamentos vêm da pesquisa, de estudiosos que se dedicam a encontrar respostas para os transtornos psicológicos e testam as teorias na prática. Na terapia cognitivo-comportamental, tudo precisa ser verificado, a teoria está sempre se atualizando e trazendo novas informações que enriquecem a prática. No consultório, é fácil verificar a relação entre baixa autoestima e sobrepeso ou obesidade: o problema não é a comida, e, sim, a função que ela tem para a pessoa. Comer porque está triste, assaltar a geladeira porque brigou com o companheiro, o chefe, a mãe, porque se está insatisfeito com o trabalho, os motivos são vários, mas acabam sempre no prato. Muitas vezes, a pessoa não percebe, comer é comportamento automático, nem importa o que se escolha. Há casos de pacientes que, no decorrer do tratamento, descobrem que nem gostam de determinado alimento, ou seja, comiam pão de queijo, por exemplo, e nem gostavam. Ou nunca tinham percebido que o segundo pedaço de bolo não tinha o mesmo gosto do primeiro, mas continuavam repetindo. Não se come por prazer, a fome é emocional, de carinho, de amor e de aceitação.
Como conseguiu provar essa teoria?
Consegui ouvindo as pessoas, suas histórias, suas dores, no estágio, nas palestras que ministrei para pacientes que se submeteram a cirurgia bariátrica, no consultório. Comprovando com a experiência, que a comida não é o problema, mas a relação que a pessoa tem consigo mesma, com o próprio corpo. Ajudando aquela mulher a descobrir por que ela tem necessidade de se esconder do mundo atrás daquela armadura de gordura, por que ela acredita que não tem controle sobre a comida e que é fraca e que nunca vai emagrecer, por que ela busca conforto e alívio de emoções negativas no chocolate ou na pizza, mesmo não tendo consciência disso. Quando a pessoa começa a perceber seus pensamentos, as emoções decorrentes deles e o comportamento que resulta disso, ela tira o foco da comida e passa a compreender o que realmente falta em sua vida, e descobre do que precisa para ser feliz. E que, no fim das contas, não é comida.
Em que o trabalho de psicóloga ajudou na criação da teoria?
Como está provado que dietas, remédios, chás e outras soluções milagrosas não são solução para a obesidade, que só faz aumentar, buscou-se a resposta para vencê-la dentro dos indivíduos. A psicologia objetiva entender o comportamento humano e, a partir dessa compreensão, auxilia as pessoas a terem qualidade de vida. Para isso, é preciso investir no autoconhecimento: quem a pessoa é, o que ela quer, como ela pode alcançar seus sonhos e ter uma vida mais plena? Sem esse entendimento de si mesmo, o indivíduo vai aceitar o que lhe oferecem, e não o que ele merece ou deseja. A pressão social é grande em relação aos padrões estéticos, chega a ser cruel, e as pessoas acima do peso sentem essa pressão. Não faço defesa ou campanha pela magreza, mas trabalho para que as pessoas desenvolvam autoestima e sejam felizes com o seu biotipo. E está provado que a pessoa que conhece a si mesma não vai ser refém nem da comida nem da pressão social, vai se aceitar e se cuidar, apreciando o que vê no espelho.
A questão da autoestima sempre foi importante para você? Você percebeu algum desses sintomas em você?
Sim, porque não tenho a aparência da moça da capa, e isso nunca me incomodou, sempre cuidei do meu interior e isso se reflete no exterior. Nunca tive problemas com comida, adoro doces, mas minha relação com eles é boa (risos).
Como esse trabalho é feito? E quanto tempo dura o tratamento?
A terapia de obesidade é feita individualmente ou em grupo, com encontros semanais, é objetiva e focada no problema. Trata-se de terapia breve, mas a duração depende de como a pessoa responde ao tratamento, pois alguns podem ter dificuldade de enfrentar as emoções negativas, por terem passado muito tempo evitando-as, ou por carregarem traumas, como abuso sexual na infância. Cada caso é um caso, mas, em poucos meses, já se percebem mudanças.
De que forma você acha que terapia contribui para as pessoas?
É libertador descobrir que se é capaz de controlar a própria vida, que o bem-estar depende apenas da própria pessoa. O indivíduo vai para a terapia em busca de solução para a obesidade e encontra todo um mundo de possibilidades de mudar muito mais coisas em sua vida. Não se trata apenas de emagrecer, não que isso seja pouco, mas de desenvolver autoestima, resiliência, autocontrole. De aprender a superar obstáculos e a enfrentar as dificuldades e os reveses sem sucumbir a eles, sem se tornar vítima das circunstâncias, mas agente de mudanças positivas.
Quem costuma te procurar para realizar o tratamento?
Pessoas que passaram anos tentando todos os tipos de dieta, usaram inibidores de apetite, fórmulas e medicamentos legais e ilegais, tiveram sérios problemas de saúde, passaram uma vida emagrecendo e engordando, viveram o efeito sanfona (emagrecer-engordar-emagrecer-engordar…), fizeram cirurgia bariátrica e emagrecerem pouco, mesmo com a restrição da quantidade de comida. Pessoas que tentaram de tudo, menos terapia, e chegam ao consultório frustradas, tristes e confusas, buscando uma resposta e, principalmente, uma solução definitiva. Pessoas que acabam descobrindo que a terapia deveria ter sido a primeira tentativa, e não a última.
Entrevista para a Revista de O Fluminense, edição de 27 de março de 2016, onde falo sobre as causas emocionais da obesidade, e o trabalho que desenvolvo, visando o autoconhecimento e o aumento da autoestima, e o que a terapia cognitivo-comportamental oferece como opção de tratamento.
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