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Psicólogo afirma que não existe cura para a ansiedade. Leia e entenda.

Imagem: Arman Zhenikeyev/Shutterstock

A ansiedade é um mal que pode gerar consequências negativas tanto na vida social quanto na profissional de uma pessoa e ter controle sobre ela pode exigir bem mais do que simples força de vontade.

Em alguns sites foi publicado que 33% da população mundial sofre com transtorno de ansiedade – número que estaria de acordo com suposto levantamento feito pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No entanto, como a reportagem não conseguiu localizar nenhuma informação oficial da instituição, consideramos tal porcentagem incerta até o momento.

O que encontramos de fato foi um relatório indicando que transtornos mentais representam 30% da carga mundial de doenças não mortais.

É importante frisar que, embora depressão e ansiedade se pareçam em muitos aspectos, não são a mesma coisa.

“São dois transtornos considerados irmãos, já que muitas pessoas com ansiedade acabam apresentando concomitantemente sintomas depressivos, e o mesmo acontece com pessoas deprimidas, que apresentam sintomas ansiosos”, explicou o dr. André Pereira, doutor em Psicologia pela UFRJ, em entrevista exclusiva à CONTI outra.

André, que possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em psicoterapia cognitivo-comportamental, atuando principalmente com transtornos de ansiedade e humor, falou sobre as principais características e tópicos que envolvem o transtorno.

Confira abaixo:

DEFININDO UM QUADRO

Sentimentos de ansiedade aparecem quando nos vemos desafiados por uma situação potencialmente perigosa. Nossos ancestrais tinham que se preocupar com a escassez de alimentos, ataques de animais e outras tribos, intempéries climáticas etc. Nos nossos dias, as preocupações são com a perda do emprego, com a violência urbana, com a perda de status social, com a previdência etc… Independente do foco da preocupação, os sentimentos de ansiedade sempre ocorrem quando avaliamos uma situação como ameaçadora e quando percebemos nossos recursos para lidar com estes perigos limitados.

Os quadros de ansiedade considerados patológicos compõe o que se denomina Transtornos de Ansiedade e abrangem transtornos específicos, tais como, Transtorno de Pânico, Agorafobia, Fobia Específica, Transtorno de Ansiedade Social, Transtorno de Ansiedade Generalizada entre outros.

SINTOMAS

Entre os sintomas físicos mais comuns dos transtornos de ansiedade estão: taquicardia, sudorese, rubor, tremor, formigamento, náuseas, falta de ar, inquietação, entre outros. Outros sintomas incluem, preocupação intensa e difícil de controlar sobre determinado assunto, sentimentos de medo, impotência, incapacidade, irritabilidade, tensão muscular, insônia e outros.

Todos os seres humanos em algum momento da vida experimentarão alguns destes sintomas. Isto se dá devido às reações de ansiedade serem adaptativas para lidarmos com situações ameaçadoras.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico pode ser feito por um psiquiatra ou psicólogo, que levará em consideração as queixas do paciente, o foco do problema, as maneiras com que a pessoa já tentou lidar com o mesmo, o impacto dos sintomas em sua vida. Podem ser usadas entrevistas, escalas ou inventários específicos para confirmação da hipótese diagnóstica. Entretanto, o diagnóstico é estritamente clínico.

CAUSAS

A etiologia dos transtornos de ansiedade são multifatoriais. Sabe-se que pessoas que apresentam o quadro têm mais chances de terem parentes também diagnosticados com o transtorno. Isso aponta para uma influencia genética. Porém, isto não é tudo. Fatores ambientais podem facilitar o aparecimento ou não do transtorno. Situações de estresse marcantes, problemas familiares, sociais, pais e mães ansiosos, podem favorecer a que seus filhos também desenvolvam um transtorno de ansiedade.

PESSOAS MAIS ATINGIDAS

Em geral, para a maioria dos transtornos de ansiedade, as mulheres são mais acometidas que os homens. Não se sabe ainda o porquê desta maior frequência.

DIFERENÇA ENTRE ANSIEDADE E DEPRESSÃO

Uma diferença importante é que, enquanto a ansiedade é mais voltada para o futuro e para sinalização de ameaça, a depressão se remete mais ao passado, para sinalização de perda. Sintomas comuns entre os dois transtornos envolvem: irritabilidade, agitação, insônia, fadiga, dificuldade de concentração.

Muitas vezes os sintomas de ansiedade são secundários a outros transtornos, como um quadro depressivo, e com o tratamento do último, o primeiro também entra em remissão.

DOENÇA?

Assim como ocorre com a pressão arterial, o fato de termos pressão não é uma doença. Passa a ser considerada uma doença, isto é, hipertensão arterial, quando a mesma, em repouso, atinge uma determinada marca que aumenta muito a chance de complicações cardiovasculares.

O mesmo acontece com a ansiedade. Ela só se torna patológica a partir de um determinado ponto, onde a intensidade, frequência e impacto na vida da pessoa prejudicam de maneira marcante seu funcionamento. Quando uma pessoa, por exemplo, deixa de dirigir, ou de voar de avião, e isso traz prejuízo para sua vida, consideramos um caso de transtorno de ansiedade.

USO DE MEDICAMENTOS

Cada caso precisa ser avaliado individualmente. Porém, casos graves, em geral necessitam sim de medicação. O uso de medicamentos pode diminuir os níveis de ansiedade e facilitar o engajamento do paciente na terapia, trazendo um conforto inicial, até que ele aprenda a lidar de maneira mais eficiente com os gatilhos que lhe provocam ansiedade e possa, então, diminuir e retirar a medicação. Casos mais leves, podem se beneficiar do tratamento psicológico sem que seja necessária a utilização de medicamentos. Algumas práticas como relaxamento e meditação demonstram uma ótima eficácia neste sentido.

CURA

Justamente por não ser uma doença a ansiedade não tem cura. Podemos, sim, diminuir a intensidade da mesma para níveis funcionais, porém não podemos falar em cura. Seria mais adequado falar em regulação da ansiedade.

EQUÍVOCOS

O maior equívoco é buscar eliminar qualquer ansiedade de nossas vidas. Isso não é possível e nem é funcional. Podemos aprender a lidar com níveis moderados de ansiedade e manejá-las para que não nos atrapalhe a conseguirmos alcançar nossos objetivos.

Jocê Rodrigues

Editor, escritor e jornalista.

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