É praticamente unânime a percepção das pessoas de que tem algo nelas que não está direito, não está bom. Como se fosse uma parte torta. Pode ser o nariz, a orelha, as pernas, os pés, enfim, cada um tem sua queixa. Uma ou várias. E pode ser bem difícil, em alguns casos, aceitar alguma parte de nosso corpo que não está conforme a mídia dita como modelo ou até mesmo algo de que nós mesmos não gostamos em nós.
Claro que não precisamos gostar de absolutamente tudo. Mas será mesmo que existe alguém totalmente satisfeito com seu próprio corpo? Ou melhor, será mesmo que existe algum corpo completamente perfeito? Para começar, o que é a perfeição, considerando que vivemos repetindo que ela não existe, exceto no Criador?
Será mesmo que faz sentido sofrermos ou nos depreciarmos por conta de algo que não nos parece como deveria ser? Esse julgamento pode render algo de positivo ou criativo? Cada vez mais tenho certeza de que não! E essa reflexão me veio ainda mais clara porque recentemente visitei um ponto turístico muito famoso no mundo inteiro justamente por ser torto. Por não ser certo, direito ou perfeito. Mas é exatamente sua ‘tortice’ que a faz tão encantadora. Trata-se da Torre Pisa, na região da Toscana, na Itália.
O mais interessante é que há quem acredite que a Torre foi construída propositalmente torta, mas o fato é que se trata de um erro. Ela foi construída em um terreno instável e, durante a construção, até tentaram reparar essa instabilidade com algumas medidas de engenharia, mas as tentativas não deram certo e a Torre terminou inclinando ainda mais durante algum tempo.
Hoje, estável, tornou-se cartão postal da cidade e visitada por milhares de pessoas todos os anos, rendendo lucro para trabalhadores, comerciantes e moradores do local. E a reflexão que me vem é: e se os idealizadores da Torre não tivessem aceitado a sua ‘tortice’ e a tivessem destruído? E se tivessem insistido em construí-la num outro local para que pudesse ser direita, reta? Será que sua fama seria a mesma? Será que os ganhos seriam tantos?
Usando essa mesma reflexão, fiquei me perguntando: quantas coisas em nós mesmos que despendemos tanto esforço para tentar arrumar quando, na verdade, poderiam ser nossos diferenciais? Algumas pessoas até sofrem e se revoltam pelo fato de alguma parte sua não ser igual a dos outros ou por não corresponder ao modelo de reto ou direito, perdendo a chance de enxergar o charme que existe em sua “tortice”.
Mais do que isso, raramente conseguimos perceber que é na instabilidade que amadurecemos e descobrimos mais sobre nós mesmos. É no momento de fazer ajustes e adequações que mais podemos reconhecer nossos talentos e nosso potencial. E isso acontece especialmente no amor.
Quando doemos por causa de um relacionamento que acaba, de um amor não correspondido ou até de uma traição é quando mais podemos nos dar conta do que existe de iluminado e também de escuro em nós. É quando temos mais condições e até disponibilidade de enxergar o que fizemos de ‘certo’ e de ‘torto’ e quanto isso mostra quem a gente é e quem queremos ser. O que temos de diferente e que pode encantar o mundo ao nosso redor.
Minha sugestão é para que você comece a aceitar mais o que existe de ‘torto’ em você.
A ideia não é se acomodar ou ser menos do que você pode, mas transformar o torto em beleza, em charme. Para reconhecer a sua singularidade e capacidade de ser feliz sendo você mesmo, sendo do seu jeito. Assim, ser você pode se tornar uma experiência bem mais interessante, leve e gostosa.
* Rosana Braga é consultora de relacionamento do ParPerfeito, psicóloga, palestrante, jornalista e escritora.
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