Gustl Rosenkranz

E aí, qual é o seu vício? Não temos todos nossas próprias “drogas”?

Quando se fala de vício, há sempre muita gente criticando QUEM USA DROGAS, uma crítica que faz sentido, pois realmente o uso de drogas pode ser algo sério, principalmente quando se perde o controle da coisa. O que me incomoda é que parece que há um problema de definição do que significa USAR DROGAS.

Consumir maconha é usar droga, mas beber álcool também.

Consumir cocaína ou heroína é usar droga, fumar cigarros (ou charutos/cachimbo) também.

Consumir crack é usar droga, se entupir de analgésicos quando sente qualquer dorzinha também.

Consumir LSD é usar droga, tomar psicofármacos sem a devida indicação e sem acompanhamento médico também.

Mas penso que o uso de drogas em si nem é o x da questão. O problema não está no uso, mas na dependência/no vício que esse uso pode causar.

O ser humano se vicia em alguma droga (ou em alguma coisa) porque seu uso ativa “centros de recompensa” no cérebro, o que faz com que a pessoa queira viver sempre de novo tal satisfação, repetindo (e aumentando) as doses até ficar dependente física e/ou psiquicamente. Com o tempo, essa satisfação artificial termina virando rotina e passa a fazer parte do dia-a-dia da pessoa, sem que ela perceba que tudo isso é simplesmente uma fuga (já que a vida não é feita somente de satisfações!).

Ou se usa drogas para se anestesiar e esquecer as dificuldades que se passa na vida, o que, no final, dá no mesmo: pode terminar em vício!

Pois bem, se a dependência é o problema, não vejo (na base) tanta diferença entre fumar um baseado, encher a cara de cerveja ou se entupir de chocolate todos os dias. Também o chocolate (e muitos outros alimentos!) vicia, cria dependência e termina fazendo mal tanto para o corpo como para a mente.

Açúcar e gordura são duas das “drogas” que mais viciam e representam um dos vícios mais perigosos, já que nem é visto como tal.

Sinceramente, acho que o problema da dependência/do vício atinge muito mais gente do que se acredita. Até questiono se não somos todos viciados em alguma coisa, se todos nós não temos nossas próprias “drogas”.

Tem gente, por exemplo, que transforma seu trabalho em droga, se viciando nele, trabalhando demais, se entorpecendo com o que faz para fugir da realidade (de dentro de casa, por exemplo?). Já outros são completamente viciados em internet e não saem da frente do computador/do telefone! Gente, até sapato pode ser uma “droga”, pois tem muita gente viciada em comprar sapatos e já tem inúmeros pares em casa, apesar de ter somente dois pés para calçar.

Não, não quero dizer que todas as “drogas” sejam igualmente perigosas e que tudo seria a mesma coisa. Só acredito que deveríamos ser mais cuidadosos com nosso julgamento e que deveríamos questionar menos as “drogas” dos outros e refletir mais sobre as nossas próprias 😉

Imagem de capa: Albina Glisic/shutterstock

Gustl Rosenkranz

Apaixonado por palavras, viciado em escrever, sem luvas, tocando no assunto, porque gosta e porque precisa, sobre a vida e tudo que a toca.

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