Quando a busca por um sentido torna-se maior do que viver sem sentido

Por Gabriela Gasparin

Eu não lembro exatamente o caminho que eu fiz, mas há alguns dias eu estava dando aquela “zapeada” na internet quando me deparei lendo a respeito de um livro chamado “O Sentido da vida: uma viagem em busca de um propósito.”

Eu sequer sabia da existência do livro e muito menos conhecia a autora, a aventureira brasileira Jus Prado, de 28 anos. Formada em Educação Física e especializada em Hatha Yoga, aos 25 anos ela sentiu uma inquietação muito grande sobre o propósito de sua vida, até que chegou uma hora que não conseguiu mais ignorar a questão e foi viajar mundo afora em busca de uma resposta.

Grande parte das suas viagens foi para fazer trilhas e subir montanhas – já chegou ao cume de várias delas e garante: a maior graça está no caminho! Coincidências à parte, o fato é que fiquei bastante curiosa para conhecer a história dela e a procurei para dar um depoimento, claro, sobre o sentido da vida. Jus aceitou participar e me respondeu as perguntas por e-mail, já que está vivendo na França há um ano e oito meses.

Pulga atrás da orelha

A decisão de se sentir bem é sua e está disponível para você agora’, diz Jus Prado (Foto: Emma Copestake)

Nascida em Campinas, no interior de São Paulo, Jus disse que foi ainda durante a faculdade que se conectou com o montanhismo. “Foi quando tive os meus primeiros insights sobre a vida através de experiências intensas de superação de limites, desafios, viagens, pessoas e lugares incríveis.”

Ela contou que sempre teve uma “pulga atrás da orelha” para as questões mais profundas da nossa existência, que se manifestava na forma de dúvidas e questionamentos. De acordo com a aventureira, muitas das crenças que ela tinha como “verdade” não refletiam o que sentia, causando incômodo. “Era um ponto vazio dentro de mim que precisava ser preenchido”, explicou.

A inquietude foi ficando cada vez mais difícil de ser ignorada e Jus não se conformava com o que via como uma “normalidade dos objetivos de vida socialmente estabelecidos”. Foi quando percebeu: “buscar por um sentido na minha vida tornou-se maior do que viver sem sentido”, revelou.

Segundo ela, a viagem que resolveu fazer aos 25 anos foi para expandir os conhecimentos sobre o mundo, aprender com outras culturas e novos idiomas. “Colocar as minhas novas crenças em prática e me conhecer melhor para ter mais claridade sobre o que eu queria para a minha vida”, explicou.

Mas Jus sempre gostou de viajar. No Brasil já visitei algumas cidades nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Paraná. Pelo mundo já esteve em regiões da Bolívia, Argentina, Holanda, Irlanda, Irlanda do Norte, Noruega, Escócia, Inglaterra, França, Suíça, Itália, Portugal, Espanha, China e Nepal.

Sem contar as montanhas. Disse que a maioria das viagens que fez desde que começou no montanhismo foi para fazer trilhas e subir montanhas. “Conheci e escalei algumas rochas pelo Brasil, entre elas Pão de açúcar, Morro da Urca e Pedra do Baú. Fiz travessias de dias pela Serra da Mantiqueira. Trilhas pelas colinas irlandesas. Conheci a cordilheira dos Andes, escalei uma montanha de mais de 6 mil metros de altitude (Huayna Potosí, na Bolívia, foi a mais alta que já subi). Fui duas vezes parao campo base do Aconcágua, vi ao vivo o Monte Everest e a magnífica cordilheira do Himalaia e me encantei pelos Alpes franceses, suíços e italianos”, descevre.

Ela revelou que cada trilha, montanha e tipo de escalada traz uma sensação única que só vivenciando para explicar. “Para mim, subir uma montanha muitas vezes era como uma meditação intensa em que todas as partes de mim estavam presentes no agora e fundida com a natureza, mas não era sempre que me sentia conectada e me sentia bem”, explicou, e chegou a questionar até mesmo o montanhismo. Disse que chegar ao cume é legal: “traz paz e serenidade num suspiro e em seguida a lembrança de que tem um caminho de volta a ser percorrido antes de relaxar geral, mas o mais interessante está no durante, na escalada, na concentração em cada movimento, na leitura específica da rocha que desenvolvemos para procurar agarras para as mãos e para os pés. É no caminho que está toda a graça.”

Sobre viajar
Eu perguntei a ela de que forma as viagens dão sentido à vida e, segundo Jus, uma viagem não é somente ir do ponto A para o ponto B, não é somente ticar mais um destino da lista. “Viajar é presença, entrega ao desconhecido e receptividade a tudo e todos, é se conhecer e acima de tudo respeitar todo e qualquer modo de vida sem julgar. É ser e se divertir com as pessoas que atraio para as minhas experiências de vida, é encontrar num desconhecido um amigo e dar risadas”, afirmou. “As viagens me complementam e relembram que a vida deve ser boa o tempo todo.”

Está na França há 1 ano e 8 meses, morando e trabalhando com uma família. Revelou que a experiência tem sido importantíssima no sentido de trazer mais claridade e integridade sobre tudo o que vem concluindo nessa jornada. Jus acredita que tudo tem um significado e confessou que no começo não foi muito fácil entender as “mensagens do Universo”, que estava ansiosa para conquistar certas coisas na vida que ainda não estava madura para vivenciar. “Aqui tenho obtido muitas das respostas que eu estava procurando e foi onde o livro nasceu.”, relatou.

Sentido da vida

Para a autora do livro “O sentido da vida”, todos nós estamos em algum ponto desta busca, de forma consciente ou inconsciente. Para ela a procura é inevitável e natural. “Não adianta se pressionar por respostas ou querer um atalho para conseguir manifestar na vida aquilo que você acha que lhe faria mais feliz, pois tudo o queremos, queremos porque acreditamos que vamos nos sentir melhor pelo fato de possuí-los, portanto, por que não sentir-se bem antes de ter tudo aquilo que deseja? E tudo aquilo que deseja encontrará o seu caminho até você.”
Na opinião dela, o bem-estar e o preenchimento que procuramos nunca esteve do lado de fora (de nós) e nunca foi condicional. “É uma questão de determinação em se sentir bem de verdade e colocar isso como prioridade”.

Disse acreditar que as emoções têm grande importância em nossas vidas. “É a única coisa sobre a qual temos controle, inclusive as emoções negativas, que são indicadoras de que desviamos a atenção daquilo que realmente somos. E isso é lei universal, é a lei da atração que é tão real quanto a lei da gravidade. Posso dizer que encontrei o sentido da vida e que a partir de agora estou me aprimorando nessa nova realidade.”

Ao final da entrevista, realizada por e-mail, fez questão de ressaltar que “a jornada é eterna e a vida é clichê”, e explicou: “em outras palavras, não tem lugar algum a se chegar para somente então ser feliz e se permitir curtir a vida, vamos sempre estar numa posição a qual queremos mais (…). A decisão de se sentir bem é sua e está disponível para você agora! Você pode sentir-se miserável na ausência do seu desejo ou você pode se divertir nesse processo, mas palavras não ensinam, experiências de vida é que nos dão entendimento. Vá em busca da sua verdade e acredite nela mesmo sem ninguém mais acreditar, escreva a sua história e divirta-se!”

Para quem quiser conhecer um pouco mais sobre a Jus, além do livro ela ainda tem um blog onde posta textos sobre suas descobertas, é o www.lotusviajante.com. Vale acompanhar!

Vidaria é um projeto parceiro CONTI outra.

Gabriela Gasparin

Jornalista, blogueira e escritora. Em 2013 criou o blog www.vidaria.com.br, onde publica depoimentos sobre o sentido da vida. O trabalho resultou no livro “Vidaria, uma coletânea de sentidos da vida”, à venda no site www.autografia.com.br.

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