Como entender a busca pelo autoconhecimento? O que ganhamos quando nos conhecemos melhor? Como sair daquela situação rotineira que sempre me envolvo? Ao me conhecer melhor, deixarei de sofrer?

autoconhecimento é aquela porta que abre para dentro. Ela nos leva a locais e situações que nem sempre são agradáveis à primeira vista, mas que com o decorrer do tempo passam a iluminar e fazer mais sentido. O tempo faz com que aquela situação ruim e o meu papel de vítima se tornam irreais, a situação fica mais branda e eu ganho uma maior responsabilidade sobre o que me acontece.

Na nossa vida, muitas vezes, caímos num buraco. Nós nos machucamos e ficamos perdidos com a falta de opção com relação aos problemas em que nos encontramos. Questionamos o motivo pelo qual tudo acontece e nos colocamos no nosso mais cômodo papel: o de vítima. Dizemos para nós mesmos: “Isso não é a minha culpa” e transferimos a responsabilidade pelo que aconteceu a um outro: Deus, esposa/marido, namorada(o), amigo(a), colega, chefe e por ai vai uma lista enorme…

Ficamos parados, nos apegamos àquela infelicidade e a dor. Nós nos agarramos aquela situação na espera de que algo ou alguém nos tire de lá. Isso, muitas vezes, dura um bom tempo… até que um dia  percebemos que para sair, basta ficarmos de pé.

O tempo passa, esquecemos um pouco aquela situação (até porque quem a gera é uma outra pessoa), mas acabamos caindo nela, ou em outra similar,  novamente. Nós não acreditamos, colocamos a culpa em dobro no outro e novamente ficamos esperando algo de fora nos levantar. Tudo se repete.

Chega um dia em que, de tanto cair nesses buracos, constatamos por pura lógica que existe um padrão ai, um hábito. E imagine quem está sempre presente nessas histórias: você!

Você começa a perceber que, de alguma forma, está sendo responsável pelo que acontece, de alguma forma VOCÊ tem feito determinados tipos de escolha, de alguma forma VOCÊ tem deixado algumas coisas acontecerem e que VOCÊ tem alimentado um hábito.

Esse é o momento em que a porta do autoconhecimento  é aberta— é a forma de acabar com toda essa rotina de problemas. Você começa a identificar que existem algumas características suas que contribuem para que tudo isso ocorra. Você começa a identificar o início de cada problema e isso permite que você consiga perceber quando está perante um novo buraco, mas nesse você não cai mais.

Chega um dia em que tudo começa a fazer mais sentido; que você se conhece tanto, que abraça suas qualidades e defeitos, que você se desapega do que não te traz mais alegria e que deixa de procurar a aprovação das outras pessoas;  um dia em que você passa a ser a sua própria bússola.

Quando chega esse dia, você não se enxerga mais como aquela pessoa que era — percebe que aquele caminho em que você antes passava não faz mais sentido passar. Então, você se liberta do que não é mais necessário na sua vida.

O ego é um conjunto de pensamentos rotineiros que estão enraizados na sua mente aqui no presente. É uma nuvem de hábitos criados por nós mesmos ao longo da nossa existência e que herdamos do coletivo. O autoconhecimento é o vento que afasta essa nuvem para que possamos ver o sol — a nossa essência- e, por consequência, o mundo.

Veja abaixo um texto maravilhoso que resume todo esse processo — O Livro Tibetano do Viver e do Morrer (Sogyal Rinpoche):

1.
Ando pela rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Eu caio…
Estou perdido… Sem esperança.
Não é culpa minha.
Leva uma eternidade para encontrar a saída.

2.
Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Mas finjo não vê-lo.
Caio nele de novo.
Não posso acreditar que estou no mesmo lugar.
Mas não é culpa minha.
Ainda assim leva um tempão para sair.

3.
Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Vejo que ele ali está.
Ainda assim caio… É um hábito.
Meus olhos se abrem.
Sei onde estou.
É minha culpa.
Saio imediatamente.

4.
Ando pela mesma rua.
Há um buraco fundo na calçada.
Dou a volta.

5.
Ando por outra rua.

Resumão:

Quando nos conhecermos melhor passamos a identificar partes nossas que contribuem com situações que nos fazem mal — aquelas que não queremos mais em nossas vidas. Nós passamos a assumir a responsabilidade pela nossa própria felicidade e pelo nosso amor. Nós paramos de culpar o outro por tudo o que acontece.

Nesse momento nos tornamos livres e mais compreensíveis tanto conosco quanto com o próximo. Percebemos que as coisas não são tão ruins quanto podem parecer e que sempre podemos melhorar o mundo exterior ao cuidar do mundo interior.

Namastê

Andando por outras ruas,

Virgilio Magalde

Engenheiro de Formação, que largou o mundo corporativo para seguir o sonho de ser professor na área. Filósofo, escritor e poeta de coração. Atualmente desenvolvendo o hábito de ser blogueiro. Possui formação em coaching e se interessa sobre assuntos de desenvolvimento pessoal, relacionamentos, meditação, espiritualidade e demais explicações sobre o que vemos e sentimos.

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