Imagem: Kamil Macniak/shutterstock
Alterar a voz é uma tentativa desesperada de se fazer ouvir. Ninguém sai por aí gritando à toa. Grita-se em situações de medo, descontrole e falta de outros recursos. Às vezes, grita-se para ser capaz de ouvir a si próprio.
Há pessoas normalmente serenas que gritam com estranhos no trânsito, porque foram provocadas ou tiveram sua segurança ameaçada. Há chefes que gritam com seus subordinados, baseados na equivocada premissa de que o outro, quando acuado, produzirá mais e melhor. Há casais que gritam um com o outro, porque perderam a dignidade e a amorosidade na relação.
Há pais que gritam com seus filhos, porque acreditam que autoridade é algo que se estabelece assim, no grito. Gritam ainda, porque sentem-se esgotados e perdidos diante de inúmeras tarefas e desafios cotidianos, dentre elas, educar crianças que não vêm com manuais de instrução.
Crianças podem ser extremamente desafiadoras em relação ao papel de autoridade. São muito agitadas, pedem atenção ou companhia em tempo integral, demonstram dificuldades em entender e seguir regras.
Ocorre que, quanto mais “difícil” for a criança, maior autocontrole precisará ter cada um dos adultos que lidam com ela. Educar é aquele tipo de trabalho que só pode ser assumido por quem tenha absoluta certeza do tamanho da encrenca em que está se metendo.
Não há como negar que criança dá trabalho. Ainda que tenham sido geradas com uma dose imensa de amor, combinada com outra dose igualmente gigantesca de responsabilidade, há que se ter consciência de que a chegada de uma criança à vida de um casal, promoverá uma revolução completa na rotina e na transformação de papéis de todos os envolvidos em seu sustento, acolhimento, instrução e educação.
Crianças vêm equipadas com uma potente antena para captar comportamentos ao seu redor. Quanto mais hostil, inseguro e intempestivo for o ambiente em que a criança estiver inserida, mais complicado e desafiador será o seu comportamento.
A criança reage aos estímulos que recebe. Se for tratada com autoridade amorosa, tranquilidade, respeito e alegria, as chances de desenvolver comportamentos opositores, retraídos ou violentos, diminui consideravelmente.
Quando o adulto grita com a criança, a primeira reação que ela manifesta – mesmo que não demonstre -, é preparar-se para enfrentar uma ameaça. Tanto ela pode encolher-se dentro dessa sensação, como pode desenvolver atitudes reativas de enfrentamento.
Em seguida, a criança passa a perceber que há coisas que ela faz que desestabilizam os adultos por ela responsáveis. E isso é bastante perigoso. No caso de essa criança estar vivendo com menos atenção afetiva do que necessita, ela vai repetir ações parecidas para conseguir audiência. Afinal, se é o grito a atenção que ela recebe, que seja; melhor isso do que nada.
Outro padrão de comportamento que pode se estabelecer, nasce da curiosidade da criança em relação aos limites que pode testar. Muitas vezes, os pais repetem a forma de agir diante da desobediência ou agitação dos filhos. É como se fosse um “script” a ser seguido pelo “elenco” da família. A criança descobre que aquela gritaria é o ápice; e assim, acaba por provocar a situação.
O ideal é que se entenda o quanto essa falta de controle emocional é prejudicial ao desenvolvimento infantil, antes de envolver crianças em um relacionamento. No entanto, errar faz parte de qualquer processo. O que importa, neste caso, é reconhecer que elevar o tom de voz, não só impede a solução do problema, como termina por agravá-lo.
Romper o ciclo de um comportamento instalado não é fácil; mas não é impossível. Vão aqui algumas reflexões que podem ser bastante úteis para que se estabeleça com as crianças uma relação mais harmoniosa, disciplinada e saudável.
1. Estabeleça uma parceria de diálogo e troca entre todos os envolvidos na educação das crianças. É fundamental que todos possam se colocar a respeito de como se sentem e que se firme, entre os adultos, um acordo de conduta, assim a criança se sentirá mais segura e protegida.
2. Procure localizar quais são as circunstâncias que acabam por desgastar a tranquilidade e exaurir a paciência. Faça um registro. A ideia é analisar a situação de fora do momento de explosão.
3. Uma vez localizadas as situações de conflito, procure por outras alternativas de conduta que respeitem aqueles acordos feitos anteriormente. Faça novamente um registro com as novas possibilidades de atitudes a serem tomadas.
4. Encontre uma maneira de fazer com que a criança tenha acesso e possa compreender, com clareza, o que é permitido, o que é vedado, o que é negociável, o que é inegociável.
5. Seja coerente! Jamais haja em desacordo com o que prega! Jamais dê permissão para algo em um momento e proíba em outra circunstância; a criança fica confusa e tentada a insistir, afinal “vai que cola, né?”.
6. Caso a criança descumpra um combinado, ou porte-se de maneira inadequada, procure repreendê-la de forma simples (nada de sermões intermináveis!); com autoridade; gentileza; firmeza e justiça.
7. Fale baixo; e nunca chame a atenção dos pequenos em público. Assim como nós, os adultos, a criança se sente constrangida e humilhada, quando exposta.
8. Procure garantir que a criança tenha sua atenção em algum momento do dia. E nesse momento, esteja por inteiro nesse encontro. Não vale dizer que é hora de brincar com seu filho e ficar grudado na televisão ou no celular!
9. Partilhe suas experiências, converse, conte coisas interessantes, ouça o que os pequenos têm a dizer ou a perguntar. Demonstre interesse genuíno.
10. E, o mais importante de tudo: encontre o SEU JEITO ESPECIAL de incluir a criança no grupo familiar. É na convivência das pequenas coisas de todos os dias, que se estabelecem os mais bonitos e verdadeiros laços de confiança e respeito; isso é o que se chama VÍNCULO AFETIVO. Educar ainda é o maior ato de amor! Isso não mudou e nunca vai mudar!
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