Há certas lembranças que ficam gravadas em nossa memória e, geralmente, as carregamos por toda a vida.
Uma dessas lembranças é o suicídio de um senhor, amigo da minha família, quando eu tinha por volta de nove anos de idade.
Lembro-me de que fiquei profundamente chocada e, o mais intrigante, foi a culpa que senti, pois, como não o cumprimentava, acreditei que isso poderia ter sido uma das razões de seu suicídio. Penso que não devo ter sido a única a ter tal sentimento!
O suicídio de alguém sempre nos deixa o pesar de que falhamos com essa pessoa, porque é difícil sermos bons e atenciosos em todos os momentos.
De acordo com o relatório da OMS, o Brasil é o oitavo país em número de suicídios. Em 2012, foram registradas 11.821 mortes, sendo 9.198 homens e 2.623 mulheres; índice
alarmante, visto que mata mais do que a AIDS.
É um fenômeno social sério e objeto de estudo para a filosofia, psicologia, saúde pública e para todos aqueles que se preocupam com o bem-estar das pessoas.
Há uma probabilidade alta de que o suicídio seja um gesto da pessoa que considera a vida absurda, que não vale a pena ser vivida e, em consequência, decreta o seu fim.
No entanto, antes desse gesto fatal – tirar a própria vida– a pessoa já vem preparando, no silêncio do seu coração, o suicídio de muitos outros estados psíquicos importantes como: o da confiança, da esperança, da coragem…
Nesses casos, há uma dificuldade da própria pessoa em confiar e partilhar suas aflições internas, buscando o isolamento social e apostando na morte como a única alternativa possível para seus problemas considerados insuportáveis.
Sabemos que, quando não há esperança, não há como acreditar no futuro, consequentemente, toda a razão de vida fica comprometida. Anulam-se, assim, os recursos que sustentam o porquê de se viver. O sujeito, nesse estado de sofrimento psíquico, está em risco e, nem sempre, quem está ao seu lado tem conhecimento.
Estudiosos da mente salientam que o suicídio é uma forma de comunicação através da morte: O suicida precisa morrer para falar.
A depressão, entre tantas outras, pode ser causa de suicídio; doença que acomete a mente e produz nas pessoas letargia do pensamento, dificuldade em realizar tarefas simples, acometimentos de pensamentos negativos, levando-as a sentirem-se fracassadas.
Nos gêneros de ficção, há muitos filmes e romances que abordam o tema, ajudando-nos a compreender esse quadro, tal como o filme, “As Horas” de Stephen Daldry, que possibilita identificar situações e sentimentos típicos de pessoas acometidas pela depressão e que cometem suicídio.
Há também o famoso trecho de autoria de John Donne com o qual Ernest Hemingway abre seu livro de 1940, “Por Quem os Sinos Dobram”, Nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti, lembrando-nos de que esse ato de tirar a própria vida afeta não somente a própria pessoa que o comete, como também traz consequências psicológicas nefastas nos familiares e pessoas próximas ao suicida.
Esse é um problema que não pode ser tratado como tabu: ocultar ou subestimar tal questão.
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