Procurar um profissional especializado em qualquer área do conhecimento pode ser uma atitude desafiadora frente às nossas próprias seguranças e certezas.
É importante termos a mente aberta e nos lembrarmos que, quando estamos envolvidos em uma situação, nem sempre a enxergamos de maneira totalmente clara e imparcial uma vez que somos influenciados por nossos próprios sentimentos.
Os pais, por exemplo, podem notar alguns comportamentos diferentes na rotina das crianças. Outras vezes, eles só percebem a necessidade de intervenção quando são alertados pela educadora escolar.
Situações como a morte de um familiar próximo, o divórcio dos pais, o insucesso na escola, a dificuldade em fazer amigos ou a simples mudança de casa, podem ser geradores de estresse na criança e provocar desequilíbrios na sua relação com os outros e com a vida. Muitos comportamentos serão normais em determinadas situações e em determinados âmbitos, mas desproporcionados e desajustados noutras situações. Nestas últimas, a criança pode precisar de ajuda.
Alguns sinais de alerta:
– isolamento frequente
– episódios de tristeza prolongada ou choro frequente “por tudo e por nada”
– falta de prazer com brincadeiras de que anteriormente gostava
– problemas de concentração quando realiza as suas tarefas domésticas ou escolares
– quebra abrupta do rendimento na escola, com notas bastante inferiores às habituais
– alterações de comportamento, como agressividade exagerada
– alterações nos hábitos de sono, seja insônia, ou querer ir para a cama com frequência (muitas vezes um sinal de isolamento)
– retrocesso em situações já conseguidas, como voltar a fazer xixi na cama ou voltar a querer a chupeta ou o paninho
– atraso no desenvolvimento, seja na linguagem ou no uso do banheiro
– nos adolescentes são muitas vezes perceptíveis alterações no apetite (para mais ou para menos) ou, mais grave, sinais de dependência do tabaco, álcool ou até de outras drogas.
– queixas frequentes de dores, especialmente da cabeça ou da barriga, apesar do exame médico ser completamente normal.
Esta lista não é de modo algum exaustiva, mas refere apenas alguns exemplos que podem ser indicativas de situações de atenção. Outras situações podem igualmente alertar os pais de que algo não está bem. Por outro lado, nem sempre a presença das alterações que referi acima significam que existe algum problema. Cada caso é um caso e cada criança é uma criança, diferente de todas as outras.
Todo o meu trabalho é pautado na intervenção do comportamento dos pais e o trabalho com a criança diretamente só vem após uma boa orientação com os pais. Muitas vezes nem é preciso intervir com a criança.
Quando uma criança precisa de ajuda psicológica nem sempre ela é a única pessoa na família que precisa de ajuda. Muitas vezes, o pai ou a mãe também se beneficiariam com algum acompanhamento. O conflito é relacional e envolve sempre pais e crianças.
Seja porque a principal causa do estresse é a relação da criança com os seus pais, seja porque as alterações verificadas na personalidade da criança afetam igualmente os pais que podem, também eles e à sua maneira, sentirem-se um pouco perdidos. Ou mesmo porque os sintomas da crianças podem ser reflexos de alguma outra situação familiar e, nesse caso, as crianças estariam apenas apresentando sintomas reativos de uma causa maior e, em casos assim, talvez a orientação aos pais seja até mesmo mais importante do que um processo terapêutica para a criança.
Nesses casos, a psicóloga Mag Montenegro, afirma que a orientação e suporte com os pais resgata para eles a confiabilidade para se relacionarem com os filhos de maneira saudável. Isso me parece sempre o ideal. Esse é para mim na verdade o trabalho que acredito e que vejo dar certo. Trabalhar com os pais na orientação e suporte faz com que retomem sua confiabilidade e segurança para exercerem seus papéis como pais. Resgatar essa confiabilidade faz com que retomem suas funções sem culpa e medo e a criança volta a ter a segurança e confiabilidade nos pais. Esse na verdade é o exercício saudável de relação. Por isso acredito no trabalho relacional colocando os pais na função que só eles devem exercer. Claro temos exceções que escapam a esse quadro mas neste caso estaríamos falando de quadros mais graves que nada tem a ver com as neuroses e estão mais ligados a quadros psicóticos.
A solução para estes problemas envolve duas coisas fundamentais e muitas vezes negligenciadas: tempo e disponibilidade. Tempo porque nada se resolve sem a poeira assentar e a visão estar mais livre. Disponibilidade porque a criança precisa se sentir acompanhada quando está em casa ou na escola. Os pais devem estar atentos e também abertos para mudanças.
Todo processo deve começar com os pais.
Quando houver necessidade de atendimento da criança, é importante que ela saiba ao que vai ou que pelo menos tenha alguma noção prévia. A criança deve saber que se trata de um médico especial que não vai fazer algum exame físico mas apenas conversar e brincar com ela. A conversa com ela deve ser adaptada ao seu grau de desenvolvimento e maturidade, mas o que tem de ser dito deve sê-lo sem rodeios.
É importante que a criança sinta que aquilo que conversa com o psicólogo é confidencial e não vai ser transmitida aos pais. Só desta forma ela poderá estabelecer uma relação de confiança com quem a pretende ajudar. Isto mesmo deve ser dito à criança, quer pelos pais quer pelo médico ou escola que fez o encaminhamento.
(Artigo de referência: Revista Pais e Filhos, com comentários da psicóloga Mag Montenegro)
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