Elisângela Siqueira

Quando os pais devem procurar um psicólogo para seus filhos?

Muitas vezes os pais não procuram atendimento psicológico infantil, por sentirem que falharam na educação do filho, receio de serem julgados pelo profissional, medo de serem responsabilizados pelos sintomas da criança, etc.

Esse singelo texto tem como objetivo apresentar alguns “sinais” que, se emitidos pelas crianças, devem ser observados pelos pais com mais atenção para que eles intervenham e, se necessário, procurem ajuda profissional.

Acredito que “semear” informações é importante para desfazer o estigma que envolve a psicoterapia e diminuir a resistência de buscar um profissional, quando há um sofrimento apresentado pela criança.

Antigamente havia uma crença generalizada de que as crianças não tinham problemas e de que a infância era um período de plenitude da vida de todas as pessoas. Entretanto, estudiosos descobriram que as crianças, assim como os adultos, apresentam: ansiedade, angústia, medo, tristeza, entre outras emoções negativas. Esses e outros sentimentos desagradáveis fazem parte do desenvolvimento normal da criança, entretanto se forem estendidos por muito tempo ou impactarem a vida escolar, social ou familiar, deve-se tentar identificar os causadores do sofrimento.

Muitas vezes a criança sinaliza que há um problema familiar, já que ela capta com facilidade as circunstâncias vividas, mas não verbalizadas pela família. E a criança acaba fazendo a função de expor alguma dificuldade enfrentada dentro do contexto familiar.

Não é verdade que os pais precisam sair correndo em busca de um profissional se algo não vai bem, pois muitos “sintomas” fazem parte da faixa etária que a criança se encontra. E antes de procurar um psicólogo, acredito que muitas vezes os pais possam compreender as dificuldades de seus filhos e alinhar o funcionamento familiar para a melhora dos sintomas de suas crianças.

Como as crianças, principalmente as menores, expressam suas emoções através do brincar, sugiro que os pais passem algum tempo da semana com seu filho e proponham algumas atividades, como: brincar de faz de conta, desenhos livres ou ainda pedir para a criança contar uma historinha inventada por ela e observar, durante essas atividades, as palavras, comportamentos  e os afetos que transbordam da criança durante essas práticas.

Certamente os pais identificarão algumas fantasias ou aspectos emocionais que poderão ser cuidados dentro do contexto familiar, através de conversas e ajustes da rotina.

Alguns  “sinais” que devem ser observados pelos pais:

  1. Choro excessivo, tristeza, apatia e falta do desejo de brincar. Normalmente as crianças brincam boa parte do tempo, mas quando estão tristes não conseguem realizar essa atividade com naturalidade.
  2. Insônia ou sono excessivo: as crianças sempre têm uma rotina de sono, caso mude muito e perpetue horários diferentes por semanas, melhor observar com atenção;
  3. Dificuldade de aprendizagem: se a criança tem bom desempenho na escola e começa a apresentar déficit, há algo diferente acontecendo;
  4. Adoece frequentemente: um dos sintomas muito comuns na infância é a somatização, ou seja, a criança que não consegue entrar em contato com suas emoções, acaba adoecendo seu corpo;
  5. Desinteresse em interagir com outras crianças: o brincar é inato às crianças, a linguagem universal de comunicação entre elas é a brincadeira, se há dificuldade de interação, pode sinalizar algum problema emocional como tristeza ou ansiedade;
  6. Excesso de comida ou inapetência: assim como a rotina do sono a criança tem um hábito alimentar constante, caso haja mudança drástica, pode ser um sintoma emocional;
  7. Dificuldade com limites/regras: geralmente as crianças acatam as regras com facilidade se explicadas e seguidas por todos da casa, ou seja, o exemplo é o melhor modelo, mais importante do quê palavras. Se o(s) filho(s) estão com dificuldade de respeitar regras há indício de dificuldades de aceitar as frustrações impostas pela vida. Vale a pena investigar com atenção;
  8. Problemas em controlar os esfíncteres: controlar o xixi e o cocô é algo que as crianças já nascem programadas para adquirir com o tempo, caso não aconteça, ou perca esse controle depois de ter conseguido, o problema pode ser emocional.
  9. Agitação: algumas crianças têm sentimentos tão confusos e intensos e, por não conseguirem lidar com estes, acabam por tornarem-se hiperativas em comportamentos;
  10. Dificuldade de concentração: há crianças que podem se sentir tão ameaçadas pelo meio ambiente que preferem ficar apenas em seu mundo interno, perdendo a capacidade de manter a concentração nas coisas que acontecem ao seu redor.

Acredito que não se deve “psicopatologizar” todas as emoções ruins ou difícil de lidar, entretanto, esses “sinais” se  emitidos pelas crianças, por um determinado tempo, requerem atenção e, se necessário,  os pais devem procurar um profissional da área para ajudar a criança e obter maiores orientações.

Imagem de capa: Olimpik/shutterstock

Elisangela Siqueira

Psicóloga com especialização em Psiquiatria e Psicologia da Infância e da Adolescência e em Psicoterapia Psicanalítica Breve. Mais de 10 anos de experiência. Atendimentos presenciais e online.

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Elisangela Siqueira

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