Se existe algo que eu acho deprimente, são aqueles casais que não se amam mais e que, por alguma razão, insistem em permanecer juntos. Aqui, eu nem falo dos casais que vivem de aparências, porque esses, pelo menos, disfarçam a hostilidade quando estão em público, ou pelo menos tentam disfarçar. O foco desse texto são aqueles casais que vivem como inimigos mesmo. Nesse formato de relacionamento, os envolvidos se hostilizam, não torcem um pelo outro, não sentem orgulho da relação e, não fazem nenhuma questão de esconder isso de ninguém. Aqui, pode-se dizer a plenos pulmões que são pessoas que dormem com o inimigo.
São relacionamentos falidos, nos quais não há, absolutamente, nada que justifique a permanência das duas pessoas juntas, mesmo porque, há casos em que existem, inclusive, a prática da violência física, dentre outras formas de agressões. E é tão triste isso! Sem contar que, em muitos casos, existem filhos crianças ou adolescentes naquele contexto tão hostil e opressor. O casal não leva em conta o quanto os filhos são afetados por essa situação. Os filhos, simplesmente, adoecem emocionalmente, e fisicamente também. Como esperar que os filhos se desenvolvam com saúde e equilíbrio emocional num ambiente onde não há afeto, nem respeito, nem consideração?
Considero, ainda, que os filhos estão tendo o pior referencial de relacionamento, vendo os pais se tratarem como inimigos. E, são grandes as chances de que esse modelo tóxico de se relacionar seja reproduzido por eles, futuramente. Sabe, é muito triste a forma como o amor é apresentado a muitas pessoas, ainda na infância, pela forma como os pais se portam como casal. Para muitos adultos, o amor não é bem visto ou até mesmo não existe. Isso, porque, as figuras mais significativas de suas vidas lhes mostraram um “amor” que machuca, que desrespeita, que humilha, que agride, que hostiliza, que maltrata, enfim.
Conheço um rapaz que me confessou ter dificuldade de receber carinho da namorada e de ser bem tratado pela família dela. Ele disse que tem péssimas lembranças da convivência dos pais. Segundo ele, sentia-se culpado todas as vezes que via a mãe chorando nos fundos do quintal pelas constantes brigas. A razão de sentir-se culpado, ele não soube explicar, mas, disse que se sentia sobrando naquele ambiente, como se ali não fosse um lugar para ele estar. Esse rapaz tem uma tremenda dificuldade em receber elogios e, sempre que é bem tratado, sente-se desconfotável, desconfiado, como se não fosse digno disso.
Diante disso tudo, penso em vários discursos que ouço de pessoas criticando e julgando os casais que se separam. São pessoas que afirmam categoricamente que filhos de casais separados sofrem demais. Tudo bem, até entendo que sofrem mesmo, lógico que uma separação afeta todos os envolvidos naquele relacionamento desfeito. Contudo, muitas dessas pessoas desconsideram o mal que fazem aos próprios filhos mantendo uma “união” desastrosa. É fato que muitos cônjuges, por se odiarem, se empenham, também, em destruir a imagem do pai ou mãe para os filhos. As pessoas, no geral, têm muita dificuldade em separar os papeis dos seus cônjuges. Elas misturam tudo, despejam nos filhos as mágoas que têm do marido ou esposa, desconsiderando que os filhos veem pai e mãe diferente da forma como eles se percebem como cônjuges.
Definitivamente, não sei o que leva muitas pessoas a permanecerem “juntas” se não se suportam mais. Eu sou motivo de piada para muitas pessoas do meu convívio quando afirmo que eu não quereria um casamento sem amor e muita cumplicidade. Na cabeça delas, isso não é possível…que eu vivo poetizando tudo. Tudo bem, não preciso provar nada a ninguém.