Ando testando e praticando na minha própria pele uma mudança de vida.
Uma mudança que tem a ver mais com observar atentamente pensamentos e emoções, tentar entender e desconstruir padrões mentais, do que mudar drasticamente o rumo dos meus passos.
Ando tentando reconstruir e reinterpretar caminhos internos independente da realidade que me circunda.
Começo a perceber e a acreditar que todo sentimento pode se transformar no momento em que acontece.
Todos os nossos pensamentos podem adquirir uma diferente conotação se olharmos para eles com cuidado e delicadeza ao invés de acharmos que eles são a mais pura e verdadeira expressão do que somos e de onde estamos. É possível deixar que os pensamentos e emoções nos transbordem sem que, no entanto, atropelem o nosso amor pela vida e por nós mesmos.
A primeira prática que faço é simples, é apenas um deslocamento de referencial.
Ao invés de ficar alimentando a autocompaixão, olhando insistentemente para um joelho ralado, sangrando, doendo, que parece tomar todo o meu tempo e energia, impossibilitando outros passos pelo medo de outras quedas, eu lembro de todas as outras partes do meu corpo que estão cheias de energia vital. Eu lembro que apesar da dor, eu não sou só um joelho, eu sou um inteiro. E não é porque um lado meu dói, que a vontade de vida em mim tem que se submeter.
Ao invés de eu ficar lamentando as folhas secas de minha árvore, os sentimentos que não vingaram, que voaram e deixaram saudades, a dor da falta, a solidão de um inverno que me acometeu. Eu celebro, cuido e sinto tão fortes e vivas minhas raízes, úmidas, crescendo vastas em meus subterrâneos. Cheias de vontade de renascimento e com coragem para novas primaveras.
Ao invés de eu olhar com intensidade para minhas doenças, dores e tristezas, coloco um pensamento de gratidão em tudo que ainda cresce livre, vivo, saudável dentro de mim.
Invisto energia em meus risos bobos, em meus pensamentos soltos, na dança dos meus sonhos, nas minhas vontades sem nexo. Deixo de ser severa comigo mesma, de me martirizar e me punir pelas quedas, pelas decisões não tomadas, pelas metas não alcançada, pelos amores não vividos, por cambalear ainda na vida.
E, quando preciso, me pego no colo, como uma mãe bondosa que segura o próprio filho e deixa que chore, que grite, que lamente. Como uma mãe que conversa com calma com a dor da criança, falando baixo e perguntando porque é que dói tanto, porque é que é tão grande, até a criança perceber que tudo foi só mais um arranhão. E enxugando as próprias lágrimas,enquanto recupera o fôlego, resgata espontaneamente a vontade de ir brincar na rua.
Ando aprendendo a cuidar da minha criança interna, que é espontânea, simples, livre, que chora, mas que no momento seguinte deixa isso de lado, esquece e sorri. Que ama sem culpa, que fala o que pensa, que olha pra dor e que se resguarda quando ainda não entende.
Porque a mãe dentro de mim sabe acalmar e cuidar. Mas a minha criança sabe, como num toque de mágica, mudar a válvula das emoções e recolorir as verdades de um dia.
Porque eu já aprendi que assim como a tristeza e o desanimo sabem se alastrar em meu corpo e mente, a paz e a leveza também. E a escolha é minha.
E isso não é autoajuda é não querer desperdiçar a vida.
Imagem de capa: DmitryBelyaev/shutterstock
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