É difícil pensar na finitude humana, por trazer à tona a visão escatológica do fim do mundo da nossa tradição judaico-cristã. Ela representa sinais inevitáveis, de que todos os seres vivos são finitos, que todos vamos morrer, e que temos um final. Mas, o medo da morte dispara o nosso mecanismo de defesa contra o absurdo de não querer morrer.
No fundo ninguém acredita em sua própria morte, como disse Freud: “No inconsciente cada um de nós está convencido de sua própria imortalidade”. Apesar dessa negação: a morte nos dá sinais com frequência, porque está em nós o medo do abandono, da doença, da velhice, da violência e das incertezas da vida e seus conflitos.
Então, para superar a negação da morte, precisamos aceitar que ela é um fenômeno impossível de não acontecer, que não se importa se somos religiosos, ateus, pobres e ricos ou menos ainda se alguém será enterrado como indigente ou em um mausoléu, construído para sepultar uma figura importante.
Entretanto, podemos aprender a lidar com isso de maneira pacífica: buscando o conforto na fé e nas crenças que acreditam na continuação da vida depois da morte ou encontrar na sabedoria e na espiritualidade não apenas respostas sobre a finitude, mas sobre o sentido da vida, com seus encantos e desencantos.
Hoje, em nossa civilização, estão presentes duas grandes forças antagônicas, segundo o psicanalista Erich Fromm: a orientação necrófila (amor à morte) e a orientação biófila (amor à vida), a primeira considera a morte de estranhos e de inimigos um fato lascivo, onde exaltam as enfermidades, os desastres, os homicídios, etc, que causam mortes.
Porém, a orientação biófila se revela nos seres humanos, que celebram que todos os organismos vivos têm o direito à vida. Eles lutam para preservar a vida e compreender a morte, como processo da nossa biofilia. Além disso, as pessoas biófilas amam a vida e são atraídas pela sua energia e beleza em todas as dimensões, preferindo pacificar, ao invés de destruir.
Assim, passamos a ter a percepção de finitude humana, mas não pela razão fria e calculista, que estabelece a condição niilista de vida e morte, onde têm criaturas que prefaciam não existir tempo suficiente para concretizar todos seus desejos e ambições, vivendo a sensação feral e débil diante da vida.
Portanto, a finitude e seus sinais se impõem pela nossa realidade involuntária de haver nascido e ter que morrer. Contudo, nascemos livres para dar sentido à vida e entender os dilemas da existência humana. É como afirmou Leon Tolstói: “Quando se pensa na morte, a vida tem menos encantos, mas é mais pacífica.”
Enfim, para nos desprender da tensão entre a vida e a morte está a nossa capacidade de transcender, de se elevar acima dessa dicotomia, já que temos a potência para desenvolver a nossa consciência e sentimentos, que nutrem de significados à nossa existência no plano material e espiritual.
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