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Quando um relacionamento acaba

Em agosto fomos para Brasília, passamos dez dias. Essa viagem ao Brasil, após seis meses morando fora, não estava inicialmente prevista em nossos planos. Nossa ideia era fecharmos pelo menos um ano fora, antes de cogitar qualquer retorno à terra natal. No entanto, por questões práticas da vida, decidimos fazer essa viagem. E, para ser sincera, foi uma decisão acertada…

Temos insistido no blog de que a mudança de vida vem em pequenas mudanças que você vai estabelecendo em seu cotidiano. Definitivamente, não é necessário sair viajando pelo mundo. Mas uma coisa precisa ser dita: a viagem te permite enxergar a vida com outros olhos. Não precisa ser uma viagem longa, muito menos uma viagem de avião. Pode ser uma viagem de um final de semana. O que importa é que você saia de sua realidade, viva novas experiências ou reviva experiências antigas sob uma nova perspectiva. Portanto, mesmo retornando a Brasília por alguns dias, um lugar que já vivemos, a viagem nos permitiu tornar mais palpável a mudança de vida que estamos fazendo.

Além de rever amigos, familiares e matar a saudade do açaí, da galinhada, etc, tivemos a possibilidade de sentir nossa antiga cidade. É interessante perceber o lugar onde morávamos com olhos de forasteiro. Sentir o ar que circula respirando fora dele. E, acima de tudo, dar um basta na idealização.

Curioso como a gente tende a idealizar algumas coisas depois que as deixou para trás. Isso é muito comum em términos de relacionamentos. Optamos por encerrar uma relação, mas, depois que se encerra, nos momentos de solidão, temos a tendência de relembrar somente as coisas boas do antigo relacionamento. Esquecendo-se dos verdadeiros motivos que não faziam dar certo. Pois bem, o mesmo vale para mudanças de vida. Depois que você decide fazer a ruptura, é importante ser firme e perseverante. Nos momentos de dificuldade, é comum e natural relembrar a vida anterior com certa nostalgia, relembrando mais os momentos bons do que os ruins. Nessas situações, a idealização é um mecanismo de fuga. Afinal, tanto no término de um relacionamento, quanto em uma mudança de vida, de emprego, de cidade, você está diante do desconhecido. E o desconhecido assusta, amedronta, desestabiliza, te expõe à incerteza. É um momento de troca de pele. É uma pequena morte e um renascer.

Desde pequena eu vivenciei esse efeito de idealização. Com seis anos, fui morar na França com meus pais, e voltei ao Brasil com 12 anos. Voltei falando um português com sotaque e com hábitos muito distintos do local. Recordo minha dificuldade em adaptar-me à escola em que meninas com 12 anos eram mini-mulheres e eu era uma menina-criança-moleque. A dificuldade de entender a lógica das provas de múltipla escolha. Sim, porque eu nunca havia feito uma. Eu não entendia por que um professor colocava escolhas de respostas para gerar um erro do aluno e não para medir o seu conhecimento. Eu não entendia o senso de falta de respeito ao professor, e muitas outras coisas. Na França, eu era líder de turma, amiga de todo mundo e reconhecida pelos professores. No Brasil, eu era vista como uma criança com problemas de adaptação, vítima de bullying e com um círculo pequeno de amizades. Passei grande parte de minha adolescência e juventude sonhando com a França, como eu gostava de morar lá e como lá tudo era incrivelmente “perfeito” para mim, como eu me encaixava e era valorizada.

Quando jovem adulta, tive a oportunidade de retornar para fazer um mestrado e adivinhem: cadê aquela realidade maravilhosa que eu recordava como ideal?! Não vou negar que sempre me senti muito bem na França e sempre gostei muito de morar lá. Mas, como adulta, pude perceber muitas questões que não se encaixavam com minha visão de mundo, meus desejos de vida e opções que eu vislumbrava para meu futuro.

Essa minha experiência me fez abrir os olhos, passei a compreender mais claramente como idealizar a antiga realidade estava servindo como uma ferramenta de fuga diante de uma dificuldade real no presente. Mas, mesmo assim, apesar de estar atenta, até hoje caio na armadilha da idealização. Confesso que, em alguns momentos aqui no Uruguai, cheguei a pensar com certa nostalgia sobre minha vida antiga, apesar de ter a convicção de que ela não mais me satisfazia.

Idealizar aquilo que você optou por deixar para trás é mais do que natural. Render-se a essa idealização é que não pode. Não pode justamente porque não é algo fiel à realidade. É um conjunto de sentimentos e lembranças que fazem você reviver de forma mais romântica a realidade que você acaba de deixar para trás. O fato é que qualquer mudança de vida demanda reformatarmos sentimentos, conhecimentos, percepções e emoções.  É um momento de aprendizado, conflito e superação. Reformatar uma mente “viciada” em hábitos é muito difícil. Por isso, diante das dificuldades, fiquem atentos aos momentos de nostalgia utópica, eles virão com certeza!

Meu jeito de lidar com tudo isso é sempre tentar manter em mente o que me fez querer mudar de vida. Na prática, vale a pena escrever em um papelzinho por que você decidiu fazer uma mudança em sua vida e o que irá acontecer caso você não mude ou desista no meio do caminho. Carregar esse papelzinho no bolso, na carteira, e, sempre que precisar, lê-lo. É como se você carregasse um papelzinho com sua versão lúcida e racional, é você dando uma sacudida em você mesmo e mandando para longe as armadilhas da mente.

No meu papelzinho está escrito o seguinte: “Decidi mudar de vida, pois desejo ter mais tempo de qualidade com minha família e desejo ser dona da minha vida e do meu tempo. Se eu desistir, terei que voltar a trabalhar para alguém, desistir de alguns sonhos. Entre eles, acompanhar o crescimento de meu filho mais de perto”. Meu papelzinho já anda amassado, quase rasgando de tanto me acompanhar…de tanto abrir e fechar!

E no seu? O que você escreveria?

Melissa largou tudo, foi morar no Uruguai como o Bruno e o Martin e criou o Blog Vida Borbulhante. Quer ter uma vida mais plena e interessante? Passe lá para conhecer. Curta o Blog no Facebook .

Melissa Sendic

Engenheira, mãe e lutadora inveterada por uma vida mais plena e com mais sentido. Co-criadora do Vida Borbulhante. Largou tudo, deu um salto no vazio e foi morar no Uruguai com o Bruno e o Martin. Ela busca incentivar as pessoas a viverem uma vida com mais propósito.

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