Sabe quando você era criança e pegava jacaré na praia? De vez em quando vinha uma onda maior e mais forte e te derrubava com tudo na areia, fazendo seu corpo girar sem norte, enquanto você se esforçava para respirar e engolia um monte de água. A onda gigante pegava-o desprevenido, não lhe dava a chance de escolher se ia, se ficava ou recuava. Ela simplesmente surgia do nada e bagunçava seu mundo, seus castelos, sua alegria.
De vez em quando a vida faz o mesmo. E a gente descobre que certas coisas acontecem sem o nosso consentimento, sem a nossa permissão, sem que a gente tenha tempo ou chance de autorizar. Certas coisas não pedem licença para ocorrer, e nos levam a acreditar que na vida não somos donos, mas meros convidados.
Porém, nem toda mudança súbita é ruim, e o que parecia uma onda gigante a te arrastar pela areia da praia pode ser o impulso que faltava para você chegar a águas mais profundas, ou o sopro necessário para você surfar em um oceano mais generoso.
Acontece da vida te virar do avesso e você descobrir que o avesso é seu lado certo. Nem sempre essa descoberta é óbvia de imediato, e pode levar algum tempo até que você descubra que aquilo que você achava tão perfeito, na verdade nunca serviu para você.
Enquanto você insiste naquilo que seria e não aceita o que é, você não enxerga as possibilidades. É como o passageiro que pega o trem errado e passa a viagem toda queixando-se da confusão, enquanto poderia usar o tempo para usufruir as novas paisagens, as novas companhias, a nova rota. Lamentar o que perdeu não muda nada, enquanto que ter jogo de cintura e otimismo para reverter a situação a nosso favor faz tudo se transformar.
Deixe a vida te virar do avesso e descubra que o avesso pode ser o lado certo para você. Quem disse que o que parecia bom para eles seria o seu lado ideal? No avesso você pode encontrar o ponto certo, a possibilidade nova, a cor mais viva. No avesso você pode adquirir um olhar novo para a vida, descobrindo que dá para ser feliz à sua maneira, perdendo o telhado mas ganhando as estrelas…
*A frase título deste texto é atribuída a Caio Fernando Abreu
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