Quantas vezes na vida não daríamos tudo para esquecer de algo que nos machucou? Talvez aquele fora na adolescência ou aquelas palavras duras que disseram pra você no momento mais impróprio. Eu sei, é difícil. Mas, nem sempre o inferno está no outro.
Que tal, por exemplo, aquela chance que você teve de dizer as palavras certas, no momento certo, e que você deixou passar? Ou aquela decisão que precisava ser tomada e que você adiou até ela se transformar em roupa que não serve mais, escondida no fundo do armário?
É, meu amigo. Não dá pra atrasar o relógio da vida, muito menos fazer ele dar meia-volta. Uma vez transcorrido, o tempo vira água de rio que não volta atrás no seu curso por nada, nem por ninguém. Lide com isso.
Mas nem tudo está perdido. Ainda dá pra aprender os caminhos da correnteza. Sempre dá. Mas antes, é preciso aprender a fazer as pazes com a memória. Sem o truque sujo de empurrá-la pra debaixo do tapete.
Memória é aquilo que fica embaixo das unhas quando a gente cava o jardim do passado. Mais do que o tesouro enterrado, ela é o resíduo do esforço empregado para salvar os minutos ou até mesmo os segundos de uma vida que já foi e que não é mais. É o gozo dos momentos felizes registrados em vídeos e fotografias, mas também é o aperto no peito por não poder reviver beijo, sorriso e abraço.
Para muitos, esquecer parece ser sempre a melhor solução para escapar dessa contradição. Estão sempre em busca de novas experiências, mais pra tapar buraco do que pra construir algo sólido e real.
O problema é que eles não percebem que memória e esquecimento são duas faces de uma mesma moeda; componentes de uma mina terrestre plantada no solo do peito.
Ninguém sabe a hora em que ela vai explodir, até que seja tarde demais.
Enquanto alguns preferem fingir que são capitães imponentes no comando de navios inaufragáveis, eu prefiro encarar o desafio de navegar atento às lições aprendidas com os barcos que perdi na beira do cais ou na boca do mar.
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