Quanto mais a pessoa estiver disponível, menos será procurada, por incrível que pareça

O ser humano possui algumas características difíceis de entender, sendo uma delas o desejo por aquilo que ainda não possui e, caso se trate de algo quase impossível de se obter, o desejo se torna ainda mais forte. Embora seja esse um dos motivadores de nossas conquistas diárias, prender-se a sonhos por demais utópicos acaba por trazer tão somente desilusão.

O que se encontra a uma distância significativa de nossas posses e de nossas vidas parece ser um chamariz, como se precisássemos sempre ter uma pontinha de desejo aqui dentro. Sem metas e planos, a vida perde todo o sentido, uma vez que o que nos leva adiante, o que nos força a prosseguir, a não desistir, a melhorar o que somos, é nosso querer mais, nossa necessidade de realizar sonhos de vida.

Talvez isso explique, em parte, o porquê de muitas pessoas não se interessarem por aquilo que se encontra bem pertinho, por aquilo que é fácil de se obter, por tudo o que cai de graça em seus colos. Somos movidos, também, pelo prazer de superar dificuldades e obstáculos durante nossa jornada, valorizando imensamente aquilo que conseguimos através de muita luta, depois de suar bastante por todos os poros.

Assim sendo, essa sistemática acaba se dando também em relação aos relacionamentos interpessoais, seja de amizade, seja de amor. Quantos de nós não ficamos correndo atrás de quem mal nos cumprimenta, nunca nos responde, pouco sabe que existimos? Quantos de nós não nutrimos, por anos e anos, um amor não correspondido, não semeado, por quem já escolheu o amor de uma outra pessoa? Quantos?

Caso olhemos ao nosso derredor, já haverá alguém que guarda a nossa amizade com carinho, torcendo verdadeiramente por nós. E existirá alguém que possa nos amar com inteireza recíproca, alguém que ainda não tenha pousado seus sentimentos em outros terrenos. Nem sempre, como se vê, desejar o que está longe nos leva adiante, pois, em certas situações, valorizar a disponibilidade do que é mais próximo e plausível nos fará mais felizes junto ao que é verdadeiro, a quem é real.

Imagem de capa: Iakov Filimonov/shutterstock







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.