É menos por desatenção do que por ironia que começo o título com uma questão quantitativa, dessas que tantos nos perseguem no dia a dia, das mais importantes questões às mais triviais: quantos anos você tem? Quantos anos de experiência? Quantos filhos? Quantos parceiros já teve? Quantos lugares já visitou? Quantos artigos já publicou? Quanto recebe por mês? Ou quantos “quantos” subtendidos já respondeu para se fazer “conhecido”, para conseguir chegar aonde quer, para ser selecionado, avaliado – Daqui há 10 anos, como se vê? E daqui há cinco? – quantos pontos valem seus sonhos? Quantos méritos? Quantos fracassos?
Contando e sendo contados, não são contos, narrativas que que nos deliciam ou nos revelam no decorrer das relações. Quantas contas, quantos números, pontos de soma, subtração, divisão. Somos estatitizados segundo às regras de uma proposta que mede nossa humanidade com base num capital. Tanta tecnologia, somos programados para avaliações objetivas, valorizados segundo quocientes binários como se fôssemos feitos de códigos. Vivemos sob olhar de julgamento entre a culpa latente e a competição crônica.
Há muito pouco dos momentos em que as pessoas que se veem, quando estão ali entre os seus em torno de uma fogueira a se aquecerem do frio da rotina automática, embalando um violão, descansando da vida. Ali se revelam alguns nas palavras, outros nos silêncios. Rostos conhecidos no clã da experiência de viver.
Não é sem consciência que somos tão hostilizados por tão pouco. Sabemos disso, vivemos isso. Ainda que no íntimo, todos gostaríamos de viver em um mundo que nos tratasse com um pouco mais de humanidade, com o mínimo de respeito – fosse nos bancos, nos hospitais ou no cemitério. Queríamos ao menos um pouco mais de dignidade, para viver, para morrer… Há muito dessa gentileza que nos dispensam por dinheiro ou pela sua impressão – andar bem vestido para ser bem tratado, frequentar lugares caros para ser bem visto. Ainda estamos submetidos – sendo contados e não há nada de mais humano nisso. Dispensam respeito às cédulas, aos números abstratos reais ou fictícios que se manifestam por um cartão.
Poucos sabem o quanto é bom ser bem tratado, bem recebido, receber um sorriso, ou cederem-lhe um lugar, um aperto de mão, ou um abraço, que venha de um estranho, e que venha simplesmente porque ele te reconhece como um ser humano. Mais nada, apenas isso: ser reconhecido como ser humano. Este é, ao meu ver, o primeiro reconhecimento essencial para sentir-se reconhecido em qualquer outro aspecto da vida – primeiro ser reconhecido como ser humano, aí então, depois, ser reconhecido como profissional, como esposa ou esposo, como filho, como pai mãe irmão irmã tio, como bom jogador de algum jogo, como estudante, como o que for. Primeiro – humano.
Parece tão bobo, tão ingênuo, mas é o que é. É ser reconhecido como membro da própria espécie, afirmar-se como tal pela percepção do outro, porque se nos reconhecemos como parte é enquanto parte de algo que nos recebe. Sem sentir esse reconhecimento uma vez que seja na vida, a fome de reconhecimento torna-se selvagem e indiscernível, tenta avançar por todos os lados, nunca sacia, passa por cima do que lhe contrapõe, destrói e desmorona – constrói castelos vazios sobre os escombros da humanidade despedaçada. Sobram os pedaços de um ser que esqueceu-se de ser sequer para si. Sobra o vazio.
Quantos rostos desconhecidos você viu hoje e recorda? Uma expressão desolada para o chão, um sorriso espontâneo para o nada, um olhar distante na janela… Já se perguntou, alguma vez, diante dessas expressões nunca vistas, completamente desprovidas de afeto seu, de contato pessoal, por quantos lugares esses rostos passaram, o que eles viveram, qual história eles guardam?
É uma verdade que poucas vezes encaramos, que como nós vistos desconhecidos por tantos rostos, muitos que nunca nos conhecerão e que nunca conheceremos, todos tem história, todos têm vida, todos têm sonhos – ou tiveram um dia – todos estão indo para algum lugar, voltando de algum lugar, desejando algo, sentindo muitos algos, esperando… esperando para serem reconhecidos, esperando para perceberem-se vivos e desengessarem a expressão de paisagem no encontro de outro rosto humano, encontro mobilizados por esses revolucionários gestos pequenos que nos desestabilizam da mania de contar números e nos inspiram a contar histórias. Que nos inspiram a viver qualitativamente.
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