Que a felicidade NUNCA vire rotina

Sempre me aterrorizou a frase: “que a felicidade vire rotina”, ela é tenebrosa. É impossível ter uma rotina de felicidade, somos seres humanos, adoecemos, choramos, ficamos cansados, entediados, perdemos pessoas queridas. Não quero nunca que a minha felicidade vire rotina, porque se virar, ela já deixou de ser felicidade!

Rotina é aquilo que fazemos todos os dias por obrigação. É o despertador tocar todos os dias às 6:30 para nos levantar da cama, é ir trabalhar de cabelo desarrumado e só se sentir produtivo depois do terceiro cafezinho. Rotina é chegar em casa cansado e comer lasanha congelada por preguiça de preparar o jantar. E não, isso não é felicidade, não tem como ser. E sabe o que mais é rotina? Aquela mensagem de “bom dia” por obrigação, o almoço de domingo que deve sempre ocorrer no mesmo restaurante, os dias programados para se encontrar, o beijo na testa de boa noite.

Calma, não estou dizendo que não se podem haver mensagens de bom dia, almoços de domingo planejados, beijos na testa. Só quero alertar sobre o peso que tudo isso pode ter, e o quanto a repetição pode estar ligada com esse desejo de tornar a felicidade rotina. Não devemos tornar a felicidade parte das obrigações diárias, as relações não podem se tornar obrigações.

E o que é então a felicidade? Para mim, ela tem tudo a ver com leveza. Felicidade tem a ver com a leveza do carinho sem esforço, do afeto sem obrigação, do abraço que vem de graça. As mãos que se tocam por vontade, e não por necessidade, as conversas com propósito de matar a saudade, e não por hora marcada. Felicidade é estar bem para fazer o que se quer sem se preocupar com o que é exigido de você. Felicidade é liberdade, não rotina.

Não dá para ter leveza o tempo todo, nos aborrecemos, as coisas saem do nosso controle. E já temos aqui a rotina nossa de cada dia para ocupar esse papel, não precisamos colocar a felicidade no meio disso. Que deixemos a felicidade livre para vir quando tiver que vir, assim como as pessoas que nos rodeiam, que podem nos trazer a leveza necessária somente se as deixamos livres. Que e felicidade seja livre!







Psicóloga clínica especialista em Psicoterapia Psicanalítica Contemporânea e atualmente mestranda na linha de Psicanálise e Civilização. Acredito não no poder de cura da psicologia, mas na capacidade que ela tem de transformar a dor e o sofrimento em compreensão e aprendizado.