Sabe aquelas palavrinhas que ficam entaladas aí na sua garganta? Ou, então, aquelas frases inteirinhas, perfeitas e prontas que vêm à sua cabeça só depois de algumas horas do confronto, da provocação ou da humilhação? E, as mais contundentes: aquelas declarações que vivem encarceradas no seu peito, perdidas num tempo que não volta… Sabe?!
Essas danadinhas têm um poder muito maior do que você pode supor. Palavras não ditas vão paralisando as nossas engrenagens emocionais aos poucos. E, quando a gente se dá conta, viraram ferrugem a impedir a movimentação de sentimentos dentro de nós e para fora de nós. Morrem desidratadas. Apodrecem.
Palavras são pensamentos que tomam forma, feito uma imagem que se conjura a partir de desejos, coragens ou medos inconfessáveis. E se ficarem aprisionadas, causam um enorme estrago. Pesam. Travam. Perturbam.
E como são seres essencialmente livres, vão achando jeitos de vazar da gente. E para que possam vazar, deixam de ser palavras. Transformam-se. Viram olhares cortantes ou ressentidos, transmutam-se em dores pelo corpo e pela alma, materializam-se em ações colaterais que de tão alteradas em sua origem, não as podemos mais identificar ou reconhecer; tampouco controlar.
Há coisas que são demasiadamente difíceis de dizer. Será mais difícil acolher um pedido de perdão, ou proferi-lo com toda a honestidade do coração? Será mais custoso, verbalizar uma falha de caráter ou ter palavras de acolhimento para tranquilizar aquele que a confessou? Será mais doloroso ouvir um adeus, quando se quer que o outro fique, ou dizer adeus vendo nos olhos do outro a súplica pela nossa permanência?
Acontece que, depois de proferidas, as palavras já não nos pertencem mais. Temos algum controle sobre aquilo que dizemos, ainda que cada coisa que saia de nossa boca, passe por milhares de filtros internos e externos, antes de ganharem vida. Somos responsáveis pelo que deixamos o outro ouvir. Mas não temos nenhum controle sobre o que ele é capaz de entender.
Cada um transforma o que foi dito pelo outro, a partir de suas próprias verdades e de sua constituição emocional. Cada um encontra jeitos de interpretar a fala do outro, baseado em sua percepção do mundo, em sua capacidade de interagir com as incontáveis experiências afetivas.
As palavras podem, a um só tempo, nos condenar ou absolver; nos aproximar ou afastar; nos propiciar encontros adoráveis ou embates terríveis. É por isso que nos cabe a honradíssima tarefa de encontrar uma forma qualquer de comunhão entre o que somos, sentimos, queremos e expressamos para o mundo. Porque sempre haverá coisas difíceis demais a dizer, na mesma medida em que haverá outras tantas dificílimas de se escutar.
Então… sejamos mais generosos e piedosos diante de nossas fraquezas e das alheias, também. Quem sabe não seja essa a única forma de nos conectarmos por meio de um espaço sagrado de convivência, no qual ninguém esteja obrigado a engolir sapos, e onde todos aqueles que já foram engolidos possam ser libertos e, finalmente, viver em paz… lá fora… definitivamente fora de nós!
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