Imagem de capa: Kitja Kitja/shutterstock
Que um dia tão grande o amor te encontre como me encontrou. E tomou-me como vilas, esquinas e quebra-mares são tomados por encontros. E amei, como se só te amar bastasse, como se te querer já me deixasse ainda que uma pequena intenção de pensamento mais próxima de você. Como se pudesse te convencer silenciosamente a me amar também, na insistência crédula do meu bem-querer.
Assim, amei por mim, por ti e por nós, para que houvesse um nós conjugado em um lugar qualquer que fosse. Amei sabendo que amava sozinha, como quem doa para a mão direita com a própria mão esquerda. Te amei de fato, tão e bem mais em nome de mim mesma. Ganhando e perdendo sozinha, sonhando e acordando sozinha, sem ter a quem reclamar das escolhas que fiz. Amei porque ainda é melhor ter uma coleção inteira de vazios não preenchidos que não sentir nada.
Que um dia você descubra que quem ama, ama sempre por inteiro. Ama preenchendo as faltas com esperança, as esperas com lembranças, e erguendo-nas de um algo misturado a um punhado inexato e farto de fé. O amor se alimenta bem mais do que poderia ser do que de fato se é. E ele se reconhece mais fielmente no que poderia existir do que no que de fato se há. Por isso nos demos tão bem, como gêmeos docemente delirantes.
Assim, fui me reconstruindo, como um barco que se remenda sem conter a invasão do mar, apenas no esforço de seguir reagindo. Inútil, como quem guarda um segredo que não pertence a mais ninguém se não a si. Assim, te amei até não haver mais forças para continuar amando sozinha por dois. Que um dia tão grande amor te encontre e te entregue todo o amor que preparei para ti. Que um dia tão grande amor te encontre e te faça feliz como eu não pude fazer, nem ser sem ti.
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