Erick Morais

Quebrar a cara também é descobrir o mundo

Imagem de capa: DC Studio/shutterstock

Em cada um de nós, por mais medo que se sinta e histórias que se escute, sempre há um desejo de rua e de queimar o pé no asfalto, porque quebrar a cara também é descobrir o mundo.

Pablo Neruda diz em um dos seus versos que: “Você pode cortar todas as flores, mas não pode impedir que a primavera chegue”. O poeta está correto, há coisas que não podem ser evitadas por mais que você se prepare ou faça de tudo para que não aconteça.

Isso ocorre pelo fato da vida não ser uma estrada retilínea, mas antes, uma estrada sinuosa, cheia de curvas perigosas e imprevisíveis, e por mais que alguém te diga exatamente como proceder, em determinado tempo e espaço do caminho, algumas coisas só são aprendidas quando vivenciamos a experiência, por mais dolorosa que esta seja.

Não sou adepto da ideia de que só se aprende com a dor. O amor, a meu ver, ainda é e será o maior dos professores. Entretanto, não há como negar que ela nos ensina muitas coisas, aliás, como disse, parece que só conseguimos aprender certas coisas por meio da dor, do sofrimento, do fracasso, da derrota. Em outras palavras, só aprendemos algumas coisas quando quebramos a cara.

Não adianta, algumas coisas não entram na nossa cabeça até passarmos pessoalmente por determinadas experiências. Podemos ser alertados, inclusive e de maneira geral, por pessoas mais sábias e experientes; podemos ouvir histórias, relatos de situações verídicas, ensinamentos sobre a vida de modo amplo e em pontos bem específicos, mas, por mais abertos e compreensivos que sejamos, sempre haverá algo que passará do nosso olhar e ouvidos, de forma que ao nos depararmos com aquela situação outrora evidenciada, agiremos de modo errado e, então, inevitavelmente quebraremos a cara.

Podemos relacionar esses acontecimentos exclusivamente ao período da adolescência, mas estaríamos errados. Embora, de fato, seja nessa fase, em que o “foda-se” está ligado para tudo, que quebremos mais a cara e até por isso mesmo ela esteja relacionada ao amadurecimento; o “quebrar a cara” ocorre por toda a vida, já que ninguém conhece esta em todos os seus aspectos a ponto de nunca errar.

Ainda que “quebrar a cara”, “se dar mal”, traga dores, sofrimento, decepções, frustrações, etc., é preciso entender que isso é algo que faz parte da descoberta da vida. É necessário sair, se arriscar, fazer suas próprias escolhas, viver suas próprias experiências, seus próprios relacionamentos, mesmo que vez ou outra nos machuquemos por algum motivo. Se fechar em relação ao mundo só nos torna ainda mais estranhos a ele.

É claro que, da mesma maneira que é preciso “cair no mundo”, também é necessário ouvir, sobretudo, quem tem algo para contar e se preocupa com o nosso crescimento. Todavia, os nossos sentidos dependem da experiência real para que certas coisas sejam apreendidas e isso não é algo ruim, mesmo que no fim estejamos cheios de feridas e arranhões.

Somos recortes de tudo que vivemos, inclusive, as experiências e vivencias nem tão boas ou dolorosas. O importante é o que conseguimos aprender com a cara quebrada, porque como disse Sartre – “Viver é isso: ficar se equilibrando o tempo todo, entre escolhas e consequências” – e em cada um de nós, por mais medo que se sinta e histórias que se escute, sempre há um desejo de rua e de queimar o pé no asfalto, porque quebrar a cara também é descobrir o mundo.

Erick Morais

"Um menestrel caminhando pelas ruas solitárias da vida." Contato: erickwmorais@hotmail.com

Share
Published by
Erick Morais

Recent Posts

Com Julia Roberts, o filme mais charmoso da Netflix redefine o que é amar

Se você é fã de comédias românticas que fogem do óbvio, “O Casamento do Meu…

8 horas ago

O comovente documentário da Netflix que te fará enxergar os jogos de videogame de outra forma

Uma história impactante e profundamente emocionante que tem feito muitas pessoas reavaliarem os prórios conceitos.

17 horas ago

Nova comédia romântica natalina da Netflix conquista o público e chega ao TOP 1

Um filme charmoso e devertido para te fazer relaxar no sofá e esquecer dos problemas.

18 horas ago

Marcelo Rubens Paiva fala sobre Fernanda Torres no Oscar: “Se ganhar, será um milagre”

O escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que inspirou o filme Ainda Estou Aqui,…

1 dia ago

Série que acaba de estrear causa comoção entre os assinantes da Netflix: “Me acabei de chorar”

A produção, que conta com 8 episódios primorosos, já é uma das 10 mais vistas…

2 dias ago

Além de ‘Ainda Estou Aqui’: Fernanda Torres brilha em outro filme de Walter Salles que está na Netflix

A Abracine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) considera este um dos 50 melhores filmes…

2 dias ago