Sabemos que a maior parte das coisas pode ser conceituada a partir de termos comparativos. No entanto, ainda que façamos isso, pois é uma prática comum ao ser humano, criar condições para que o outro seja prejudicado apenas para que a balança penda para o nosso lado e, assim, possamos nos sentir “melhores”, foge completamente a parte natural que existe nessa prática e assume um caráter negativo e devastador.
Ao buscar entender o porquê de tantas pessoas se preocuparem com as vidas dos outros, comparando-se com as delas, e pior, procurando insistentemente maneiras de se tornarem pessoas com vidas de maior “sucesso” e “felicidade”, só posso concluir que as pessoas que agem desse modo possuem vidas infelizes, de forma que necessitam do apequenamento do outro para que possam “crescer”.
Em outras palavras, quem é feliz de verdade não se preocupa com a felicidade dos outros, já que a raiz da minha felicidade não impede que outras pessoas também possam estar felizes, bem como, o sucesso que estou usufruindo não implica o insucesso e a infelicidade das outras pessoas, até porque felicidade e sucesso não possuem padrões ou receitas.
No entanto, existem pessoas que são incapazes de sorrir com a alegria do outro. São indivíduos que abraçam, dão tapinhas nas costas, quando alguém do seu convívio compartilha de alguma felicidade, e internamente, todavia, escondem todo o narcisismo que os impede de ficar feliz pelo sucesso de alguém alheio ao seu próprio eu.
Dessa forma, busca-se criar mecanismos que minem a felicidade alheia, a fim de que a partir da infelicidade causada no outro, possa-se ser feliz em termos comparativos. Isto é, a felicidade que se desenvolve não possui origem própria, mas sim, no sofrimento, na dor, no insucesso, na tristeza do outro.
Em uma sociedade que combina egoísmo com a obrigação de ser feliz e ter sucesso segundo, obviamente, os padrões determinados, não há de se estranhar que percebamos um mar de estranhos lutando por espaço, uma competitividade de egos querendo engolir outros e se tornar ainda mais inflados.
Entretanto, como disse, isso apenas acentua o grau de infelicidade em que as pessoas se encontram, pois quem está realmente feliz não está minimamente preocupado com a felicidade alheia ou criando maneiras de gozar com o sofrimento do outro.
Quem é feliz está preocupado em gozar da sua felicidade e, assim, não possui tempo para a mediocridade de estragar a alegria de outro rosto. Quem é feliz mesmo, quer que o outro também seja, ao seu modo, do jeito que quiser e lhe der na telha, porque em nada adianta fazer o outro chorar para ter o prazer de possuir um sorriso amargo.
Para aqueles que estão mais preocupados com a felicidade do outro do que com a secura e mesquinhez da sua própria vida, resta apenas o vazio e a desnutrição das suas almas, que de tão vazias, são incapazes de compartilhar um sorriso, porque se for para se preocupar com a vida dos outros, que seja para lhes levar alegria e compartilhar gargalhadas.
Infelizmente nem todos compreendem isso, já que de tão vazias e pobres de espírito, só conseguem escutar o próprio eco dos seus risos amargos.