Marcel Camargo

Quem realmente se ama não se sujeita a qualquer companhia

Com uma frequência maior do que gostaríamos, vemos amigos, conhecidos ou familiares presos em relacionamentos degradantes, nos quais se sentem infelizes, desvalorizados e, mesmo assim, permanecem ali, junto à dor. É como se estivessem viciados em se punirem, porque manter uma vida a dois nesses termos equivale a sofrer castigos diários.

Nenhuma relação é serena o tempo todo, livre de algumas desavenças, pois é assim que os parceiros se reajustam, fortalecendo o que traz ganhos e se libertando do que emperra. Se nunca, nenhuma vez que seja, houver algo a se discutir, é sinal de os parceiros deixaram de prestar atenção um no outro. É sinal de que tudo esfriou, espaçando-os a uma distância confortável, na qual não necessitam enfrentar o que está engolido – uma ou outra hora, a indigestão chega.

No entanto, o extremo oposto também não pode ser tido como normal, uma vez que ninguém, em sã consciência, é capaz de viver e de sobreviver com mínima saúde mental, caso passe os dias brigando com o parceiro ou clamando para que sua presença seja notada. Ninguém merece estar acompanhado e, ainda assim, sentir solidão. Ninguém merece conviver com quem só critica, só reclama, só cobra, sem nada ofertar em troca. Porque todos merecemos amor de verdade.

Por isso, antes de nos lançarmos a um relacionamento, é necessário que tenhamos bem claro, dentro de nós, tudo aquilo que aceitamos e não aceitaremos nunca; tudo o que merecemos e o que ninguém mereceria; caso contrário, poderemos trazer, para junto de nós, o que nem deveria passar por perto de nossas vidas. Temos que saber exatamente o tanto que somos e temos e podemos oferecer, para que não nos conformemos com retornos ínfimos, incompletos, menosprezíveis.

A gente tem que se bastar, completando-nos, amando tudo o que existe aqui dentro. Somente assim seremos capazes de nos relacionar sem pendências, sem que procuremos no outro o que nos falta. Caso deixemos alguns vazios em nossa essência, poderemos tentar preenchê-los com o pior que o outro tem a oferecer, porque então nos sujeitaremos às migalhas alheias. Seja inteiro, seja amor-próprio, para que não aceite menos do que a verdade completa.

Imagem de capa: Yuliya Yafimik/shutterstock

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

Recent Posts

Com Julia Roberts, o filme mais charmoso da Netflix redefine o que é amar

Se você é fã de comédias românticas que fogem do óbvio, “O Casamento do Meu…

8 horas ago

O comovente documentário da Netflix que te fará enxergar os jogos de videogame de outra forma

Uma história impactante e profundamente emocionante que tem feito muitas pessoas reavaliarem os prórios conceitos.

17 horas ago

Nova comédia romântica natalina da Netflix conquista o público e chega ao TOP 1

Um filme charmoso e devertido para te fazer relaxar no sofá e esquecer dos problemas.

18 horas ago

Marcelo Rubens Paiva fala sobre Fernanda Torres no Oscar: “Se ganhar, será um milagre”

O escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que inspirou o filme Ainda Estou Aqui,…

1 dia ago

Série que acaba de estrear causa comoção entre os assinantes da Netflix: “Me acabei de chorar”

A produção, que conta com 8 episódios primorosos, já é uma das 10 mais vistas…

2 dias ago

Além de ‘Ainda Estou Aqui’: Fernanda Torres brilha em outro filme de Walter Salles que está na Netflix

A Abracine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) considera este um dos 50 melhores filmes…

2 dias ago