É um esforço gigantesco querer tudo, ser o primeiro em tudo, ganhar a maior fatia, ter a preferência, todas as medalhas de ouro, troféus, amores, a vez, o melhor presente, a vida mais perfeita.
Quem tudo quer, mostra claramente que não há espaço para o outro que não seja na sombra dos seus triunfos. Ninguém jamais estará ao lado. Se estiver na frente, é alvo. Atrás, seguidor.
O vencedor de tudo é solitário, encarcerado em suas glórias, ostentando status de um assento somente. Ninguém senta ao seu lado. Ninguém o olha nos olhos.
Quem tudo quer, abre mão da generosidade em prol de um acúmulo de bens, moedas, pertences, coleções, poder, solidão.
O conquistador absoluto quer por querer, para que o outro queira e não tenha, para passar a vida contando, recontando e escondendo.
Quem tudo quer, quer para ter, não para ser. Quem tudo quer, entende que o excesso alimentará todos os seus vazios, a sobra esconderá todas as faltas.
Quem tudo quer, perde a vida para um gincana insana, acumula além das conquistas, fadiga, desafetos, mágoas, distâncias.
Quem quer toda a razão, distorce o senso de justiça.
Quem quer toda a atenção, lança mão de apelos patéticos.
Quem quer todo o poder, luta contra a igualdade.
Quem tudo quer, atropela sonhos alheios, afetos mais delicados, relações familiares, derruba árvores para construir muros, explode anseios, ignora o bom senso, manipula a ética.
Quando tudo quer, se perde, se desintegra, se transforma em alguém que seria seu pior inimigo ou seu maior desgosto.
Quem tudo quer, tudo perde, e o mais triste é não perceber que a mesma ambição que motivou por tanto tempo, se fosse um tanto mais comedida e andasse de mãos dadas com outras ambições, lado a lado, se transformaria num grande e valioso ganho.
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