Imagem de capa: Ollyy/shutterstock
Conselheiros são pessoas iluminadas. São pessoas que escolhemos para dividir nossas dores com a certeza que não seremos julgados e, de quebra, receberemos uma solução para aliviar a alma.
Pedir conselhos é demonstrar afeto e respeito. Somos conselheiros e aconselhados o tempo todo. Nossos erros servem de exemplos para que outros não cometam os mesmos e nossa postura, diante das adversidades, uma inspiração para os indecisos. O problema é que nem sempre isso acontece.
Tem gente que incorpora um personagem quando alguém lhe pede conselhos. Parecendo mais um juiz do que um amigo disposto a ajudar. As frases do tipo “eu te avisei” ou “ se eu fosse você, eu faria…” estão impregnadas em todos os diálogos. Logo depois, claro, das frases prontas de autoajuda. Dão conselhos passando a mensagem entrelinhas de: “Com licença? Me permite fazer um comentário, que além de derrubar gravemente sua autoestima, não acrescentará nada de positivo a sua vida?”
Só há um detalhe em comum nessas pessoas: aconselham mas nunca vivem o que pregam. Você escuta um “o mar está agitado para surfar” de quem não sabe nem nadar. Escuta um “você vai esquecer essa traição” de quem nunca foi traído. Escuta um “esse remédio é bom para o estômago” de quem nunca teve uma azia. E, se não resolve seguir os conselhos, ainda escuta um “você não faz nada do que eu digo”.
É difícil acreditar em um conselho onde a prática esteja longe da aplicação, simplesmente, porque a consciência nos define, mas nossos atos nos revelam. Em o Lobo da Estepe, de Hermann Hesse há uma citação que afirma bem essa situação: “ninguém pode ver nem compreender nos outros o que ele próprio não tiver vivido.”
Claro que tudo tem dois lados. Existem (ainda bem) pessoas maravilhosas que, realmente, se preocupam conosco, mas não podemos ser ingênuos em acreditar que todos querem nosso bem. A verdade é que estamos recebendo conselhos demais e vendo exemplos de menos. Confúcio dizia que não há coisa mais fria do que o conselho cuja aplicação seja impossível.
É tão fácil usar o discurso para encantar, encorajar, superar a dor, esquecer o ex, mas quando vivenciamos a dor do outro parece que estamos com uma faca cravada no peito e morrendo de forma cinematográfica. Resumindo pregamos a lei: para os outros o rigor, para nós a misericórdia. “Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente”. (William Shakespeare).
Às vezes quem busca seu conselho, não quer a sua opinião. Quer seu ombro, sua companhia, um amigo para desabafar… apenas isso! Rubem Alves dizia que “buscamos, no outro, não a sabedoria do conselho, mas o silêncio da escuta; não a solidez do músculo, mas o colo que acolhe.”
Conselho bom é daqueles que nos amam. Daqueles que vivem a nossa dor e se preocupam conosco. Daqueles que, indiferente, da distância se fazem presentes. Quanto aos outros, releve. Há conselhos que revelam as ações que as pessoas gostariam de ter realizado, mas o medo não permitiu.
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