Às vezes a gente cisma com uma pessoa e tenta fazer ela caber na gente assim como aquela irmã da Cinderela que calça 42 e força o sapatinho de cristal até ele machucar o calcanhar. Às vezes a gente perde o bom senso e mete os pés pelas mãos. A gente cisma em não ver o que é óbvio. Tenta ser feliz junto de alguém que só nos faz sofrer.
A gente insiste em usar as chaves certas para abrir as portas erradas. A gente fecha os olhos para as placas do caminho. Às vezes a gente insiste em se apaixonar por alguém que a gente idealizou dentro da cabeça. Amamos a ilusão mais do que a nós mesmos e vamos nos distanciando da nossa real essência. Começamos a aceitar o inaceitável. Acostumamos com o incompleto. Abraçamos a tristeza de uma vida de desilusões.
Agimos como a personagem de “Entre Dois Amores” interpretada por Meryl Streep. No filme ela, uma mulher do século XIX, que ansiava se casar faz um acordo com um amigo, bastante volúvel, e os dois seguem como marido e mulher para o Quênia, na África. Por lá ela tenta se encaixar no papel de esposa, já ele não, vive como solteiro e a trai com inúmeras mulheres.
Em determinado momento, ele convocado para a guerra vai para o outro lado do país, e ela, impulsivamente, decide ir até ele. Depois de passar por duras provações durante o trajeto, ela finalmente encontra o marido para, desgraçadamente, pegar sífilis dele. A história que ainda guarda mais tragédias para a protagonista (que quase morre por conta da doença) foi infelizmente inspirada em fatos reais.
Ao vê-la passar por caminhos áridos para chegar até aquele homem, que não dava a mínima para ela, eu me perguntei “Para que essa mulher se submeteu a tudo isso?” Parece loucura, mas não só ela se lança em caminhos tortuosos em vão. Todos os dias milhares de mulheres fazem isso. Insistem na pessoa errada com uma ingenuidade gritante crendo em uma afeição inexistente.
Muitos sacrifícios são desnecessários. Com a pessoa errada qualquer ato heroico se transforma em servidão e comumente não dá em nada. Nenhum sacrifício nosso é capaz de mudar um outro que não quer ser mudado. Nenhum sacrifício fará o outro nos amar mais.
Nenhum sacrifício despertará a chama adormecida do amor que nunca existiu. Nenhum sacrifício aflorará o respeito inexistente.
Querer estar ao lado de alguém a qualquer preço pode sair caro demais. A vida é reciprocidade. A vida é tempo e tempo não volta.
Amor é respeito e cuidado. Os caminhos errados não saciam. As pessoas erradas não completam. É preciso saber amar. É preciso saber se amar. É preciso saber pelo que realmente vale a pena lutar.
Acompanhe a autora Vanelli Doratioto em Alcova Moderna
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