Fabíola Simões

Queria mesmo é que você pensasse em mim de vez em quando

Tem uma música da Legião Urbana que eu gosto muito que diz assim: “Será que você vai saber o quanto eu penso em você, com o meu coração?”. A música é doce e a letra encanta pela simplicidade dos versos. Quem nunca se sentiu assim? Quem nunca passou um dia inteirinho pensando em alguém que não está mais por perto? Porém, jamais iremos saber por completo se há reciprocidade nesse sentimento tão subjetivo que é o pensamento.

Pensar em alguém com saudade não exige reciprocidade. Porém, não queremos ser esquecidos. Mais ainda, queremos ser lembrados por aqueles que ainda vivem em nosso pensamento. Como disse Bruno Fontes: “é tão difícil carregar uma saudade sozinho…”

Queria mesmo que você pensasse em mim de vez em quando. Que tivesse vontade de mandar um “oi” pelo WhatsApp ou mesmo um emoji feliz, assim, do nada, no meio da tarde. Que, mesmo que não me enviasse um “bom dia” pela manhã, sussurrasse em silêncio, ao acordar, que me deseja os melhores votos. Que tivesse lembranças doces. Que, mesmo sem intenção de voltar, não me deixasse passar.

Eu carrego em mim todas as saudades, lembranças e até mesmo detalhes bobos que deveriam ter passado batido mas eu fiz questão de absorver. No fundo eu sabia _ a gente sempre sabe_ que não seria para sempre. Mas eu queria mesmo assim. Eu queria guardar dentro de mim todas aquelas bobagens pra depois revisitá-las com calma, aumentando, diminuindo e até enfeitando. A gente tem o costume de lembrar das coisas de um jeito mais bonito do que elas realmente foram, por isso essa saudade de tudo.

Fico aqui pensando se você ainda se lembra. Se de vez em quando apareço no banco do carona durante um engarrafamento ou no meio de uma reunião chata. Porque comigo é comum acontecer. De vez em quando fica uma bagunça aqui dentro, meu pensamento trazendo você de volta, minha realidade dizendo que você não está mais aqui. Mas eu finjo equilíbrio. Sigo meu caminho e disfarço minha saudade. Transformo falta em sorrisos e ausência em leveza. Não sei se você faz o mesmo. Se faz, tem tido muito mais êxito do que eu.

“Será que você vai saber o quanto penso em você, com o meu coração?” Acho que você nunca saberá. O tempo vai passar, a saudade dissipar e a vida caminhar. Talvez um dia, tarde da noite, eu volte a me lembrar. Nesse dia vou sorrir sozinha, em silêncio, e se alguém perguntar o motivo, vou dizer somente: “tem lembrança que a gente não quer que morra nunca, mas cedo ou tarde elas vão embora. Por isso, quando chegam pra uma visita, a gente se faz de bobo e abre a porta…”

Imagem de capa: c12/shutterstock

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Fabíola Simões

Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.

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