O que você faria se possuísse o poder de voltar no tempo? O que mudaria? Qual parte da sua vida gostaria de reviver? Qual momento jamais voltaria? Difícil responder.
Essa dificuldade acontece por não sabermos lidar satisfatoriamente com o tempo. Estamos sempre em uma relação conturbada com ele. Às vezes, estamos com pressa, querendo que o tempo passe voando, outras tantas, estamos correndo para que consigamos fazer algo que queremos muito. Algumas vezes, estamos tão perdidos que o tempo sequer faz diferença.
Imerso em toda essa problemática encontra-se o filme “Questão de Tempo” (About Time) do roteirista e diretor Richard Curtis. Como o próprio título original sugere, o filme fala “Sobre o Tempo” e todas as relações que possuímos com ele. Na obra, conhecemos Tim (Domhnall Gleeson), um jovem inglês, que descobre por meio do pai que os homens da sua família possuem uma “peculiaridade” – são capazes de viajar no tempo. Mesmo com esse ponto, de viajem no tempo, a história se desenvolve de forma totalmente apegada à realidade, uma vez que a proposta do filme se direciona a uma discussão acerca do tempo em nossas vidas cotidianas e, portanto, reais.
Sendo assim, o tempo torna-se o personagem principal do filme, pois a principal “questão” do tempo está na forma como lidamos com ele. Em tempos líquidos, como diz Zygmunt Bauman, a vida passa muito rápido, de forma efêmera, sem que possamos senti-la e aproveitá-la ou lembrando Woody Allen em “Meia-Noite em Paris” – “Tudo ocorre muito depressa. E a vida é barulhenta e complicada”. Além disso, ou pior que isso, não sabemos necessariamente apreciar a vida.
Acreditamos que a sua real beleza e felicidade consiste em momentos grandiosos. Na verdade, todavia, os momentos mais divinos presentes na vida estão nos “raros momentos de distração”, nas suas pequenezas, nas felicidades silenciosas.
Questão de Tempo nos faz refletir sobre a perda do olhar contemplativo em relação à vida, já que sendo o tempo algo tão precioso e fugaz, deveríamos aproveitar o dia em todos os momentos. Em todos instantes deveríamos colher o que há de mais saboroso na vida, sem deixar para amanhã ou depois, pois a vida é agora e mesmo podendo voltar no tempo, há certas coisas que jamais voltam, porque até mesmo o sempre, sempre acaba, como cantou Renato Russo.
Além do mais, ninguém é capaz de controlar o tempo inteiramente, sempre permanecem caminhos ocultos e inacessíveis aos homens, até mesmo para Tim e sua família de homens viajantes no tempo, pois “A vida é o interminável ensaio de uma peça que nunca se realizará”, ela possui acasos e incompreensões para nós, de tal maneira que temos que estar prontos para viver a plenitude finita de vidas singulares. Prontos para entrar em cena, mesmo que as cortinas nunca se abram, porque nunca se sabe em que momento deixaremos o palco, uma vez que: “A vida é uma caixa de surpresas não importa quem você é”.
Talvez a vida como temos a impressão hoje não passe tão depressa. Talvez nós é que estamos perdidos, tentando chegar ao topo da montanha custe o que custar, sem ao menos olhar a nossa volta e perceber as belezas que nos cercam, não na grandiosidade do topo da montanha, e sim, nas pequenas alegrias que a jornada nos proporciona se soubermos olhar, de modo que percebamos que não é necessário chegar ao topo ou como Tim que não é necessário voltar no tempo – “Porque todos os detalhes da vida são maravilhosos”.
Assim, ao correr demais e nos preocuparmos exclusivamente com grandiosidades vazias, acredito que temos deixado de sentir o verdadeiro âmago da vida, o qual não está em um momento determinado, em um grande acontecimento ou evento. Está na capacidade de ser um viajante no tempo que jamais usa o seu poder, porque está vivendo cada dia da sua “extraordinária e simples vida” com a certeza de que cada minuto, detalhe e pequeneza, valeram à pena, pois se a vida passa em um piscar de olhos é melhor aproveitar essa abertura e guardar na janela da alma um quadro que faça sentir saudade dela.
Mesmo sabendo que nem tudo é maravilhoso, que “Alguns dias a gente só quer passar uma vez”, que “Ninguém pode te preparar para o amor e para o medo”, que “Nenhuma viagem no tempo pode fazer alguém amar você” e que muitas vezes dizer sim para o futuro é dizer não para quem amamos. A vida é breve e passa em “Questão de Tempo”, por isso ela requer coragem para que possamos enxergar o óbvio, porque como diz Tim:
“Todos estamos viajando no tempo juntos, todos os dias de nossa vida. Tudo o que podemos fazer é nosso melhor: é aproveitar esse passeio maravilhoso.”
Você não vai querer sair da frente da TV após dar o play nesta nova…
Será que você consegue identificar o número 257 em uma sequência aparentemente interminável de dígitos…
Se você é fã de comédias românticas que fogem do óbvio, “O Casamento do Meu…
Uma história impactante e profundamente emocionante que tem feito muitas pessoas reavaliarem os prórios conceitos.
Um filme charmoso e devertido para te fazer relaxar no sofá e esquecer dos problemas.
O escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que inspirou o filme Ainda Estou Aqui,…