Em algum grau, todos nós, já experimentamos o sentimento de carência. A falta de motivação, de respeito ou de elogios sinceros, desencadeiam sentimentos negativos dentro da mente, colocando o relacionamento tão sonhado em uma eminente zona de risco.
Toda carência tem um fator determinante e, geralmente, o encontramos nas relações familiares. Quando uma criança não recebe afeto de quem é o responsável por ela, dificilmente, ela será capaz de demonstrar afeto na vida adulta e, isso, a Psicologia explica melhor que eu.
A discussão aqui é que há uma grande diferença entre pessoas que não sabem dar carinho das pessoas que não o querem dar. O primeiro grupo refere-se ao resultado de vários fatores que o levaram a neutralização dos próprios sentimentos e, nesse caso, há uma probabilidade de mudança bem alta. Já o segundo grupo refere-se aqueles que não sabem, não querem e não pretendem amar em toda a sua totalidade e utilizam-se das ofensas para destruir a autoestima do parceiro.
A grande questão é: o que faz as pessoas aceitarem viver em relacionamentos abusivos, onde as ofensas são mais constantes que o afeto? Respondo: a pura e cruel carência afetiva.
Relacionar-se por carência é como comprar um livro pela capa. Num primeiro momento a escolha parece interessante, os olhos se enchem e o coração afirma que você fez a escolha certa mas, com o passar das páginas, você percebe que não poderia ter feito escolha pior.
Relacionamento baseados na carência representam a linha tênue entre o desespero e a acomodação, já que, na ânsia de criar vínculos afetivos as pessoas deixam de lado os filtros seletivos do bom senso e aceitam viver qualquer relacionamento.
É estranho assumir, mas há pessoas que acostumaram com o sofrimento. Sabem que o relacionamento não está bem, que a chance em dar certo é mínima, mas insistem na relação como condição de felicidade.
Outro agravante na personalidade das pessoas carentes é o descontrole emocional que apresentam diante dos fatos. A pessoa carente sente ciúme excessivo, demonstra desequilíbrio e dependência emocional e não consegue estabelecer relacionamentos longos.
É preciso entender que nenhuma relação sadia pode ser baseada na dependência afetiva. Escolher um amor é um privilégio que vem com a maturidade e não com o desespero da carência.
Sobre isso, o famoso psiquiatra Flávio Gikovate era enfático. Afirmava que “a expressão ‘estou carente’ corresponde também a um pedido indireto de atenção e afeto, coisa com a qual também não concordo. Não creio que se deva pedir amor. Ou uma pessoa está encantada comigo, e estará disposta a ser amorosa e dedicada de forma espontânea, ou eu devo fazer uma séria autocrítica. Em vez de pedir amor e atenção, talvez eu devesse me ocupar em dar-lhe tudo o que pudesse lhe agradar. A retribuição virá espontaneamente. Se não vier, isso significa que a relação afetiva se partiu e não há nada mais que eu possa fazer”.
Precisamos entender que o outro não é um muro de arrimo para sustentar a relação. Não é ansiolítico para trazer calmaria, nem carrega a obrigação de nos fazer feliz. Relacionamento é uma possibilidade de crescimento afetivo, intelectual e social mútuo, não uma obrigatoriedade de companhia.
Relacionamento é quando você é independente suficiente para amar a própria companhia mas, mesmo assim, quer dividir ela com alguém que valha a pena.
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