Quantas vezes me senti incomodada por olhares. Miradas de cima abaixo, onde eu, em minha cabeça, imaginava tais pensamentos:
“o que esta mulher está fazendo aqui?”, “o que esta fashionista impostora está fazendo aqui?”, “o que essa brega e nerd está nesta festa?”, “por que essa jornalista desconhecida está neste evento?”, “por que essa baixinha com corpo estranho participará desta palestra?”, “por que essa paulista caipira veio fazer parte do nosso time internacional?”, “por que essa brasileira mística foi contratada como marketing da empresa?”, “o que esta iniciante faz na formação de reiki?”, “do que essa boba alegre ri?”… e poderia passar o resto do dia escrevendo mais pensamentos tóxicos que minha mente se deu o trabalho de criar anos a fio.
Tudo isso, eu pensava = imaginava = criava que os outros pensavam = imaginavam = criavam a meu respeito. Ou seja, sem perceber, de forma compulsiva e tóxica, eu me sentia assim porque projetava nos outros o que eu sentia, com a grande desculpa de suas caras fechadas. Nunca saberei se foi 100% ilusão minha ou se algum dia alguém realmente pensou isso de mim. Mas levei décadas para compreender que não importa, nunca! o que os outros pensam e sentem sobre mim, porque, na verdade, é também uma projeção deles. Que loucura é a vida com diversas pessoas, sem autoconhecimento, criando sentimentos através de pensamentos e projetando esse lixo nos outros, não é mesmo?
Mas, outro dia, aconteceu algo curioso. Trabalhei mais de dez anos com moda em São Paulo. Conheci uma menina que eu admirava, achava ela bonita, super elegante, inteligente e bem-sucedida, mas sempre foi declarado por outros que ela não gostava de mim por diversos mal entendidos que nunca consegui esclarecer. Eu nunca tive nada contra ela, pelo contrário, sempre quis trocar figurinhas, mas em cada evento, ela me olhava de cima abaixo com a cara fechada e se falasse “oi” era muito. Eu, insegura que era, não conseguia quebrar o gelo e criar uma oportunidade para esclarecer quem eu era, o que eu pensava e o que eu exatamente fazia. Me contentava com “cada macaco no seu galho”.
Passei quase três anos fora do circuito fashion para me dedicar a outros assuntos e escrever o meu livro. Fiz muitos cursos e vivências e em um deles descobri que todo esse “mal estar” de olhares era apenas uma projeção minha e que não necessariamente existiam tais julgamentos na realidade. Nossa! Que liberdade senti, porque depois disso comecei a perceber que mesmo com desconhecidos na rua, se cruzassem olhares, eu já inventava os pensamentos deles… imaginem vocês o inferno mental que eu criava inconscientemente? O autoconhecimento mais uma vez me serviu para deixar a bagagem pela vida mais leve. Com mais amor próprio e menos veneno.
Essas experiências em novos campos me entusiasmaram tanto, que mudei de “área” apesar de volta e meia cruzar com a moda. Nesse período, esqueci da tal menina. Pois bem, uns dias atrás, por essas coisas de mídias sociais, não a vejo compartilhando um texto meu? Sorri do fundo do meu coração, como se, por uma sabedoria maior da vida, tudo em algum lugar estivesse sido esclarecido. Hoje, sinto total neutralidade sobre o que ela pensa sobre mim, mas ao me deparar com certa admiração sua sobre o que eu escrevi, me senti gratificada pela vida por viver esse momento.
Relevem seus pensamentos e sentimentos. Busquem caminhos onde possam vivenciar sua essência que é a verdadeira fonte infinita de paz, amor e alegria. Quando partimos desse lugar interno para a vida, todo o resto se transforma.
Imagem de capa: Luis Molinero/shutterstock