É incrível como o ser humano consegue evoluir materialmente, com tecnologias fantásticas. O homem foi à lua, planeja pisar em outros planetas, faz viagens extraordinárias de forma externa. Agora, os Estados Unidos fabricaram um equipamento aéreo com raio laser, de dar inveja aos produtores de Star Wars, com inimaginável capacidade de destruição para nós, reles mortais. Há pessoas planejando viajar a Marte, a passeio, mesmo que sem volta. Outros escalam o Everest muitas vezes, mergulham nos misteriosos mares e conhecem criaturas incríveis nas profundezas. No entanto, o homem não costuma viajar para seu mundo interno e desconhece até mesmo a superfície de suas mais primitivas emoções. É incapaz de controlar suas reações e não tem claramente a percepção do significado das palavras paz e guerra.
Numa abordagem mais otimista, podemos citar, agradecidos, a existência de muitos seres de sabedoria, mestres de grande bondade, vindos de uma cultura contemplativa, que se aventuraram no universo interno e que hoje, abrem para a ciência as janelas desse mundo não menos incrível. A sabedoria dos seres que vivem no silêncio das grandes montanhas nevadas chega ao ocidente e possibilita provar os benefícios da contemplação, do olhar cuidadoso para as próprias emoções e sinais internos, das práticas da introspecção e da solitude.
O monge francês Mathieu Ricard, considerado, após exaustivos testes científicos, o homem mais feliz do mundo, escreveu em seu livro “Felicidade”: “Se uma emoção fortalece a nossa paz interior e nos ajuda a buscar o bem dos outros, ela é positiva ou construtiva; se ela destrói a nossa serenidade, perturba a nossa mente e fere os outros, ela é negativa ou perturbadora”. Os contemplativos propõem sairmos da confusão mental e emocional, criando um observador interno e estando vigilantes ao que ocorre dentro de nós. Na Bíblia, temos o ensinamento: “Orai e vigiai”. Não é para vigiarmos a vida do outro. É para observarmos nossas emoções perturbadoras. A propósito, demorei a entender que “Não matar”, um dos Dez Mandamentos, não significa não matar o outro ser humano. Mas não matar nenhum ser e não matar nada. O objetivo é sempre a felicidade.
Felizmente, há muitas práticas contemplativas, muitas técnicas de meditação disponíveis numa simples pesquisa no Google. E este pode ser um bom modo de vida, independente de religião. Sua Santidade o 14º Dalai Lama, um dos seres mais inspiradores da contemporaneidade, ensina de forma muito simples esse modo de viver. “Minha religião é a bondade”, diz. Há alguns anos, conheci o Lama Padma Samten, outro mestre inspirador. Ele me ensinou a meditar de forma detalhada e disponibiliza ensinamentos na internet, para quem quiser. “O controle de qualidade da prática é o seu próprio bem-estar”, diz. Ele alerta para o percentual de brilho no olho, com muito humor: “Brilho a 100% é muito, vocês podem ser considerados loucos. Mantenham a 60 ou 70%”, brinca.
A prática de sentar
Para quem quiser experimentar essa aventura interna, cheia de descobertas incríveis, lá vai a dica. Começamos sentados, em um lugar calmo. Deixamos a coluna ereta, de uma forma confortável e fazemos o voto de ficar imóveis por determinado tempo. Podemos começar com 5 minutos. Então levamos nossa atenção à respiração e seus movimentos. Ficamos atentos, e quando a mente se distrair, voltamos a atenção à respiração. Então começa a viagem, os embates com o corpo (talvez venha um mosquito e temos o voto de imobilidade); aquele problema que nos perturba vem à tona e precisamos deixá-lo ir… Inspira e expira, e só.
Deixo aqui meus votos de que todos os seres possam se beneficiar com as práticas de meditação. Ao longo da caminhada em busca da compreensão da verdade, não vejo outra atividade mais pacificadora do que esse olhar honesto para nosso universo interno, essa viagem pela mente, a caminho da lucidez, do bom senso e do desejo pelo bem dos seres. O caminho é longo e a ignorância é o nosso principal obstáculo. Mas tenho convicção de que vale a pena seguir. Afinal, é algo simples e nem custa dinheiro: cultivar o silêncio e a pacificação, a calma interior.
Como ouvimos por aí: inspira, expira e não pira!
Indicação de livro A Revolução do Altruismo- Mathieu Ricard
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