por Fernanda Pompeu
imagem Régine Ferrandis
Há quem diga que o melhor da ida é a volta. Que aquele que se aventura pelo mundo guarda no coração o endereço de casa. Eu acho que depende.
Tem brasileiro que vai morar no estrangeiro e pensa inimaginável o retorno. O estupendo cronista Ivan Lessa trocou o Rio de Janeiro por Londres, onde morreu depois de trinta quatro anos. A graça é que Ivan nunca quis voltar ao Brasil, nem a passeio.
Já minha amiga Ana Sampaio, morando faz décadas no Québec canadense, sempre sonha com a volta. Vez por outra, ela cantarola Sabiá do Tom Jobim e Chico Buarque: Vou voltar / Sei que ainda vou voltar / Para o meu lugar / Foi lá e é ainda lá / Que eu hei de ouvir cantar / Uma sabiá. Chico, como centenas de outros patrícios, viveu a dureza do exílio na época da ditadura militar.
A comunista, feminista e cearense Ana Montenegro (1915-2006) amargou quinze anos de exílio. Viveu no México, Cuba, Alemanha. É dela a reflexão: “O exílio é um espaço vazio, o exilado não o pode povoar nem de pedras, nem de casas, nem de céu, porque é um espaço vazio de lembranças”. Acredito que Ana acertou na mosca ao mencionar as lembranças. Porque muita gente volta a um lugar por conta delas.
Régine Ferrandis, amiga e parceira de trabalho, resolveu o ir e vir de maneira original. Ela reside seis meses em Sampa, seis meses em Paris. Assim nunca está definitivamente aqui ou lá. Ela está no caminho, morando no itinerário. O que – convenhamos – dá uma liberdade tremenda.
Mas, algumas vezes, a volta não é para um lugar físico, casa ou país. Ela pode ser um retorno a algo que já fomos. Meu amado pai, nos seus últimos dias, chamava pela mãe. Sendo que minha avó Affonsina morreu em 1971. Portanto, meu pai chamava por alguém ausente há mais de quarenta anos.
Hoje penso que talvez ele quisesse retornar ao menino que um dia foi. Voltar à criança que talvez nunca o tenha deixado. Ou, ao menos, à criança que nunca o tenha esquecido.
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