Eu rezo, sabe? Não é coisa muita, não. Nada assim formal. De cor, não sei mais que duas orações. Mas eu rezo assim mesmo. Fecho os olhos em silêncio, penso numa coisa boa do passado, do presente, do futuro, e agradeço por ela.
Aqui, bem dentro da minha gratidão, cabe um mundo inteiro de gente, de bichos, de coisas, datas, lembranças, histórias, saudades, cheiros e sons, gostos e imagens, amores e dores, tantas dores. Cabe todo mundo aqui. Quem veio, quem foi, quem ficou, quem virá. Cabe sem aperto. E a mim só cabe, primeiro, agradecer.
É preciso gratidão, sabe? Deitar os joelhos no chão, de manhã, na beira da cama, e agradecer. A gente tem de agradecer primeiro, por tudo, antes de mais nada.
Você pode até achar que não tem o que agradecer, que a vida anda bruta, que isso e aquilo, por isso vai logo pedindo o que precisa. Mas eu ainda acho que é preciso mostrar gratidão. A gente precisa agradecer. Nem que seja por ainda poder pedir.
Primeiro a gente agradece, depois a gente pede. A ordem é essa. E não custa nada respeitá-la.
Pedir antes de agradecer é mais ou menos como passar a carroça na frente do burro. Não pode, não. É falta de modos. Se você não entra em casa dos outros sem pedir licença, não esquece de dizer “bom dia”, “boa tarde”, “boa noite”, “por favor” e “obrigado” quando deve, não joga lixo na rua nem maltrata quem quer que seja, não peça nada sem antes agradecer!
Quem agradece diz a Deus que aproveita o que tem, que valoriza o que conseguiu e que faz por merecer. Agradecer é uma forma bonita de mostrar respeito e fé. Pressupõe que a gente sabe o que tem, reconhece que ganhou porque se fez merecedor e que rezar não quer dizer “esperar cair do céu”.
Quando a gente esquece de agradecer e sai enviando pedidos de toda sorte a Deus, ao nosso Anjo da Guarda e a todos os santos, a oração perde a força. Não vale nada. Não chega lá. Quando a gente reza, é preciso rezar direito. Rezar na ordem correta, simples e poderosa: primeiro a gente agradece, depois a gente pede.
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