Rocketman: primeiro, perdoe a si mesmo

“Rocketman” é um filme que se baseia na vida de Elton John, um ícone da música pop, cujo sucesso levou suas músicas ao mundo todo. Narra a trajetória de vida e de sucesso do cantor e popstar, desde sua infância, até o momento em que resolve se livrar definitivamente dos vícios em que tanto se afundava.

Com atuações brilhantes, figurino impecável e arranjos musicais primorosos, as cenas da vida do cantor casam-se perfeitamente com as letras das canções que tanto sucesso fizeram. É perfeita a ligação entre o teor das músicas e os momentos que elas marcam, como se as canções fossem capítulos da vida de Elton John. Uma vida de passado doloroso, de sucesso envolto em escapismos pelo álcool, pelas drogas, em relacionamentos disfuncionais.

A frieza do pai, o distanciamento egoísta da mãe, a dificuldade em assumir a homossexualidade naqueles tempos, nada parecia concorrer ao encontro do cantor consigo mesmo, com sua identidade. Para nos tornarmos quem realmente somos, afinal, temos que enfrentar nossos fantasmas, nossos medos, lidar com o passado e resolvê-lo, antes de olhar o futuro. Caso contrário, a gente empaca aqui dentro, mesmo que, como Elton, haja glamour e brilho lá fora.

Felizmente, Elton John teve uma força amiga com quem sabia que podia contar, o letrista Bernie Taupin, seu amigo da vida toda. Bernie escrevia como que com a alma de Elton, que então preenchia as palavras com sua essência musical – e assim nasciam as obras-primas. Muito mais do que mero compositor, Bernie traduzia os sentimentos mal digeridos que Elton relutava em colocar para fora e enfrentar. Bernie era o contraponto racional ao turbilhão emocional e desvairado do cantor.

Bernie estendeu as mãos para que o amigo saísse de sua escuridão, o que foi de inestimável ajuda, mas Elton John somente conseguiu se libertar de tudo o que lhe sufocava quando perdoou a si mesmo, numa das cenas mais estupendas do filme. E essa é a lição mais forte que o filme deixa: é preciso perdoar-se, para que então se consiga perdoar as pessoas, os acontecimentos, o passado. Para que então consigamos nos libertar de tudo o que nos impede a felicidade que tanto merecemos. Que todos merecemos.

Imagem: Reprodução







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.