O cérebro do ex-boxeador Adilson Rodrigues, o Maguila, será estudado por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) para investigar a encefalopatia traumática crônica (ETC), conhecida como “demência do pugilista”. A decisão foi tomada ainda em vida pelo atleta, com o apoio de sua família. Maguila faleceu na última quinta-feira (24), aos 66 anos.
Irani Pinheiro, esposa de Maguila, contou ao Jornal Nacional que o desejo do ex-boxeador de contribuir para a ciência se concretizou nesta semana. “A doação foi feita ontem para estudo.”, afirmou. O neurologista Renato Anghinah, que tratava o ex-lutador, reforçou a importância do gesto: “É um ato de grandeza da pessoa que manifestou isso em vida. Eu me lembro de algumas vezes no consultório dele falar disso”.
O cérebro de Maguila agora faz parte do acervo do Biobanco da Faculdade de Medicina da USP, popularmente conhecido como “Banco de Cérebros”. O projeto já recebeu cérebros de outros grandes nomes do esporte, como o boxeador Eder Jofre, em 2022, e o ex-capitão da seleção brasileira Bellini, em 2018, ambos diagnosticados com a mesma doença que afetou Maguila.
A encefalopatia traumática crônica é uma condição degenerativa provocada por lesões repetidas na cabeça, comum entre atletas de esportes de contato. Os cientistas esperam que a análise comparativa dos cérebros de Eder Jofre e Maguila forneça pistas sobre a progressão da doença. “O Maguila e o Eder Jofre não tiveram exatamente uma carreira semelhante, né? Isso com certeza vai ajudar a gente a entender as alterações, né? O que pode ter impactado mais, se a patologia que o Maguila tinha era mais leve, mais avançada ou mais inicial do que a do Eder Jofre. O que fez ser diferente? Qual o mecanismo que está por trás da doença, né?”, explicou a pesquisadora Roberta Rodriguez.
Rodriguez destacou ainda a importância da pesquisa para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e tratamento. “O objetivo é melhorar a qualidade de vida desses atletas, conseguir desenvolver estratégias para prevenção da doença e também que a gente possa contribuir para o desenvolvimento de alguma medicação que seja eficaz, né?”, disse.
Com mais de 4 mil cérebros doados ao longo de 20 anos, o Biobanco da USP é um dos maiores e mais diversos do mundo. A pesquisa realizada no local tem como foco principal doenças neurodegenerativas.
“É muito importante porque doenças como Parkinson e Alzheimer ainda não têm tratamento eficiente porque a gente não sabe exatamente como a doença se desenvolve no cérebro. Éntão a gente precisa desse tipo de doação para a gente poder tratar essas doenças de uma forma eficiente”, ressaltou Renata Leite, neurologista e coordenadora do Biobanco.
A decisão de Maguila representa um legado não apenas para a ciência, mas também para outros atletas, contribuindo para a compreensão dos impactos das práticas esportivas de alto impacto na saúde neurológica.
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