Quiséramos que a saudade fosse apenas uma palavra ilustrativa no imenso vocabulário da língua portuguesa. Sim, aí então, nos acostumaríamos a senti-la apenas na textura do papel. Mas não é! Saudade, segundo o dicionário brasileiro, é um sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa… ou à ausência de experiências prazerosas já vividas. Vivemos experiências como dor, amor, ilusão, etc.! Mas diante de muitas outras, não há uma suficientemente forte para nos fazer esquecer pessoas que nos trouxeram alegrias e nos fizeram felizes. Muitas vezes sentimos falta de pessoas que estiveram sempre ao nosso lado, porém é muito diferente de sentir saudade. A falta, podemos suprir, porque é como um espaço vazio que poderá ser preenchido, entretanto a saudade é agonizante, estremece o corpo e inquieta a alma; daí vem o desejo de que a pessoa que se foi volte logo. Sim! Porque temos a certeza de que a queremos de volta e que outra pessoa não poderia estar em seu lugar. O que poderia alimentar melhor o amor, que não seja a saudade? Tudo o que sentimos ao partirmos, muitas vezes resistindo à tentação de voltar, bater à porta sob o pretexto de dar o último beijo, ou de atravessar silenciosamente o corredor para chegar ao quarto e ainda pegá-la (o) dormindo depois de uma viagem necessária. Ou chegando tarde, à noite, às escuras trazendo escondidas suas flores preferidas. Tudo que queremos que a vida nos ofereça, é a oportunidade de matar essa saudade, porque vem a vontade de acabar com essa ausência que traz privação e sofrimento. Não existe verbo que conjugue a saudade. Apenas sentimos saudade de quem amamos, muitas vezes, bem dolorida. Sentimos saudades da voz, do aconchego, dos beijos, do abraço. Sentimos saudade de tudo, menos da ausência. A saudade é um rosto que nunca se apaga, e que o tempo não desfaz.
Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida. (Clarice Lispector)
Já sentiram a sensação de vontade de querer fazer exatamente como disse a autora? “absorver a outra pessoa toda…”.
Esse é o desejo que fica impregnado na alma de quem ama, ao fechar uma porta, ao embarcar para uma viagem, por se afastar de um abraço… O tempo não importa, apenas a ausência. A espera do reencontro se torna no íntimo, uma angústia dilacerante, quase mortal. As pessoas especiais estão sempre nos nossos pensamentos, mas as pessoas que amamos estão sempre dentro dos nossos corações, mostrando-nos que a saudade deixa na lembrança, um bom motivo para ter de volta a pessoa que amamos.
Saudade!
Imagem de capa: Anna Om/shutterstock
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