Se arrependimento matasse

“Não posso desfazer a história e tampouco apagar os erros. A única coisa possível é continuar apontado o lápis para escrever o restante que ainda falta.”

(Ita Portugal)

A verdade é que se arrependimento matasse mesmo eu já estaria morta, junto de toda a humanidade. Acho impossível encontrar quem nunca tenha se arrependido. Hoje trago a vocês uma das mais complexas reflexões da existência humana: o arrependimento.

Uma das formas mais concretas de exemplificar e entender como e porque nos arrependemos é observar fotos antigas. Quando olhamos para uma foto tirada há alguns anos e nos deparamos com as roupas que usávamos ou com o corte dos nossos cabelos, a pergunta mais comum que se faz é: “Como eu pude usar isso”?

Nas situações de arrependimento funciona da mesma forma e as perguntas a nós mesmos são: “Como eu pude agir assim”?

A resposta é uma só: Não importa! Naquele momento aquilo fez sentido – por mais estranho que pareça; e se só agora você percebe que não faria aquilo de novo, é porque você mudou, evoluiu, aprendeu.

A aprendizagem acontece quando tomamos consciência de que houve algo de inadequado na forma como nos comportamos e de que poderíamos ter agido de maneira diferente. Para todo comportamento há uma consequência e o arrependimento nasce quando observamos que as consequências dos nossos atos foram ou se tornaram negativas.

Uma das melhores formas de não sofrer é aceitar. A aceitação neutraliza a força danosa do arrependimento. Tudo na vida pode ser aprendizado, é só querer.  Construímos o livro da nossa história não somente com capítulos bonitos e perfeitos. É muito fácil perceber que poderíamos ter agido de forma diferente depois que tudo deu errado, porém, algumas pessoas sofrem em demasia por se arrependerem e acabam adoecendo e não conseguindo seguir – seria o mesmo que perder noites de sono por ter um dia tido a coragem de usar uma roupa ou um cabelo muito bregas, por ter “pago um mico” numa festa, por não ter aceitado uma proposta de emprego ou mesmo por ter namorado alguém de quem hoje você não chegaria nem perto. Como dizem por aí: “quem nunca?” Lembre-se, naquele momento fez sentido.

Vamos entender algumas regras básicas do jogo da vida que vão nos ajudar a superar os arrependimentos:

Viver é arriscar-se.

Arriscar-se poderá dar certo ou não.

Se der errado você terá que aceitar e seguir mesmo assim.

Ao longo do caminho, você acumulará erros e acertos.

Os acertos vão te dar prazer e os erros vão ser o seu aprendizado.

Quanto mais se aprende, menos se erra.

Não paramos de errar nunca.

Só existe uma receita para lidar com o arrependimento e seguir a vida, e essa receita é: perdoar-se! Mais importante do que a perdão do outro, é o perdão que vem de nós mesmos, porque quem não se perdoa não acredita e nem entende que o outro o perdoou. É muito comum utilizarmo-nos do mecanismo da negação para não enfrentar certas realidades, muitas vezes o medo de olhar e se arrepender impede de seguir. O arrependimento se torna um problema quando não conseguimos ultrapassar a barreira do perdão e chegar ao aprendizado e à aceitação – quando “encalhamos” no caminho. Na grande maioria das vezes, tentamos em vão voltar para consertar o erro, ou nos negamos aceitá-lo. Nada disso adianta, então: andemos!







Psicóloga, psicoterapeuta, especialista em comportamento humano. Escritora. Apaixonada por gente. Amante da música e da literatura...