Por Maria Cristina Ramos Britto
No consultório, têm se tornado comuns as queixas sobre o comportamento dos outros, da falta de compromisso à traição, de coisas banais como não retornar ligações a atitudes mais sérias, como desfazer relacionamentos pela internet, em tempos modernos, esse outro parece sempre estar pronto a nos decepcionar. Em relações informais, porém não necessariamente superficiais, essas reclamações são recebidas com compreensão e manifestações de simpatia, acompanhadas de uma história semelhante, própria ou de outro alguém, afinal, quem nunca ficou na vontade, esperando retribuição? Mas, como psicóloga, minha abordagem vai bem além de um tapinha no ombro reconfortante.
Para se compreender a frustração, é preciso começar com a pergunta: afinal, o que se espera da família, dos amigos, do mundo? Para refletir sobre questão tão ampla e profunda, vamos buscar os significados do verbo esperar. Lembrando da escola, na gramática, verbo pertence à classe de palavras que indicam ação. Mas como tudo na vida tem exceção, há verbos cuja ação é inação, no caso de esperar, quem espera tem esperança, mas não age, conta que algo aconteça ou se resolva, sem que seja um evento de que se tenha certeza, desejável, mas apenas provável. Quando não se quer fazer algo, diz-se ao outro: espere sentado. Então por que a decepção quando o que se espera não chega? Às vezes, porque ainda se acredita nas promessas da infância, de que quem espera sempre alcança. Ou por crenças de que pedir, reivindicar ou reclamar não são de bom-tom.
Mas onde estão as razões de viver repetidos desapontamentos por promessas não cumpridas, seja pela vida que teima em não retribuir o bom comportamento, ou pelas pessoas, que não reconhecem a dedicação que lhes é dispensada? Muitas vezes nas expectativas alimentadas pela própria pessoa não apenas na intensidade das emoções, mas no tipo de relação de que pensa necessitar. Quantas fantasias são projetadas nos encontros, de que, se não correr tudo bem, dentro das expectativas, não terá valido a pena? E por que promessas não cumpridas por outrem são uma sentença de fracasso de quem a sofre? Quando se confunde o que se pensa com o que se sente e se se mistura com o outro, desfazendo fronteiras emocionais, promessa vira obrigação e se perde a perspectiva de que a vida é dinâmica e as pessoas mudam, inclusive e muito frequentemente, de ideia.
Então, algumas pistas estão surgindo. Voltando à gramática, um verbo, usualmente, está ligado a um sujeito, que pratica ou sofre a ação. Como vimos, o sujeito que espera está na inação, dependendo de alguém que supra sua necessidade ou desejo, este o sujeito da ação. Se aquele que espera depende de quem faz ou dá, como pode exigir receber exatamente o que quer, se isso vai depender da vontade ou disposição do outro? Complicado, e mais ainda, fórmula para pequenas ou grandes decepções. Devemos, por isso, desistir de tudo e abrir mão das relações que, cedo ou tarde, podem nos entristecer, pelo não cumprimento de promessas? Não, basta aprender muitos verbos de ação e conjugá-los todo dia.
Acredito que, desde o nascimento, temos a oportunidade de descobrir as chaves do mistério da existência, porque viver, afinal, é uma aventura, às vezes, divertida, outras, nem tanto. Seja como for, por mais que tenhamos companheiros de jornada, a viagem mais significativa é a que fazemos dentro de nós. E é ela que nos permitirá lidar melhor com expectativas, frustração e promessas, sem ficar preso a qualquer uma delas. Pode ser um grande amor, o emprego dos sonhos, a viagem longamente acalentada, se não se faz nada a respeito, o tempo passa e parece repetir: espere sentado. Porque para cada sonho que se queira realizar, há apenas um verbo que não deve ser conjugado: esperar.
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