Fabíola Simões

Se não puder falar bem de alguém, cale-se

Se existe algo que tenho aprendido com a idade e com o passar dos anos, é a arte de conviver. E olha que antes de aprender, a gente erra muito, erra feio. Porém, com o tempo e alguns enganos, vamos adquirindo um certo tipo de elegância e polidez que vão além da educação. É algo sutil, mas que faz muita diferença, e que começa com a capacidade de ouvir mais do que de falar, e principalmente de manter distância das rodas de fofoca.

Quando abro a boca para falar mal de alguém, minha energia se canaliza para a mesquinhez, para a arrogância, para o julgamento frívolo e fútil. Essa energia ruim permanece dentro de mim, e é com ela que irei me alimentar, trabalhar, descansar. E sem perceber desperdiço minha vitalidade, os dons que recebi de Deus, a possibilidade de usar a palavra para algo mais assertivo e produtivo.

A vida já é tão complicada, já nos esforçamos tanto para vencer cada dia… que se não pudermos mandar energias positivas e bons pensamentos a favor das pessoas, é melhor silenciar. Silenciar é um gesto de sabedoria, de encontro com o que é realmente importante e deve ser levado adiante, de retomada do equilíbrio, de regeneração das mágoas e busca do bem estar.

Ninguém sabe o que o futuro lhe reserva. E por mais clichê que seja, realmente “a vida dá voltas”, e pode ser que aquilo que você tanto recriminou e condenou na vida alheia, venha acontecer na sua própria vida.

Adoro a frase de Fernando Pessoa que diz: “Segue o teu destino, rega as tuas plantas, ama as tuas rosas. O resto é a sombra de árvores alheias”. Pois é assim que deve ser. Cuide da sua vida, lide com as suas dificuldades, apare seus defeitos, aprimore suas qualidades e cure suas mágoas ao invés de ciscar pela vida alheia, se incomodando com que o outro faz ou deixa de fazer. Limpe seus olhos antes de falar sobre o cisco nos olhos do outro.

Tanta coisa a ser feita em nossa casa antes de apontarmos a sujeira na casa do vizinho! Tantas possibilidades de nos aprimorarmos como seres humanos, como seres espirituais, praticando a caridade, a generosidade e a compaixão, que não deveria sobrar tempo para recriminações, julgamentos, hipocrisia e falatórios em nossa vida. Tudo isso é desorganização, é perda de foco, é se afastar daquilo que viemos fazer nesse mundo: amar e sermos amados.

Diariamente somos bombardeados com ondas de indignação coletiva, e somos tentados a reproduzir essa raiva, essa indignação, esse ressentimento. Porém, deveríamos nos proteger dessas mensagens de ódio e segregação. Deveríamos buscar um local de silêncio dentro de nós mesmos e novamente nos conectarmos com o que é importante, com o que nos liga a Deus, com o que vai acrescentar algo de bom em nossa vida.

Todos nós temos a necessidade de sermos ouvidos. De desabafarmos sobre uma relação que não está indo bem ou sobre um mal estar que nos afetou. Porém, é preciso fazer isso da maneira correta, abrindo nosso coração para a pessoa certa, que irá nos ouvir com discrição e cuidado. Isso é diferente de fofocar, de julgar, de espalhar falatórios sem um pingo de responsabilidade.

Quase tudo na vida pode ser praticado e virar hábito. Assim como nos condicionamos a falar mal dos outros, aprendendo com os maus exemplos que tivemos vida afora, podemos recolher nossas cadeiras da calçada e começar a praticar o simples hábito de calar a boca. De não entrarmos em brigas alheias botando mais lenha na fogueira; de não cairmos em tentação murmurando contra os outros pelas costas; de não ocuparmos nosso precioso tempo nos divertindo com fofocas; de silenciar e só abrir nosso coração para quem confiamos.

Finalmente há um ditado que diz: “Não cuspa no prato que você comeu”. Então, antes de difamar alguém que já te fez feliz, que já foi importante para você, que já teve algum papel na sua vida, pare e pense. Se em algum momento houve uma parceria, uma conexão, até mesmo uma troca de favores, não é justo nem digno falar mal. É feio, deselegante, grosseiro e vulgar. E mesmo que você tenha saído ferido ou prejudicado, não torne pública a sua mágoa, a sua decepção, a sua raiva ou tristeza. Não mande indiretas pelas redes sociais e descubra que o silêncio pode ser a melhor resposta. Aprenda a arte de conviver e constate o quanto é elegante ser discreto.

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Imagem de capa: Andrey Arkusha / Shutterstock

Fabíola Simões

Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.

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