Marcel Camargo

Se o parceiro não muda, muda de parceiro

Parece impossível saber com exatidão o momento exato em que nada mais adiantará, em que tudo já foi feito, dito, revisado, explicitado, em que é hora de sair de um relacionamento que expirou de vez. Queremos dar certo na vida, no trabalho, no amor, por isso nos custa demais terminar com algo definitivamente, porque dói falhar assim, dói demais.

Nós nos apegamos com certa facilidade a coisas, a pessoas, tomando como parte de nossa vida muito do que nem deveria estar junto, mantendo o que machuca, por medo, covardia, por ter que dar satisfações aos outros, ao mundo, enquanto ficamos a cada dia menores, acumulando o vazio de um relacionamento de mão única, amando por dois, pedindo, clamando, doando sem retorno, sem guarida, sem volta.

E os dias vão se passando como nuvem, fugidios, superficiais, carregados de uma ausência doída de afeto e de atenção. E vamos como que nos arrastando, trabalhando, agindo mecanicamente, carentes de ao menos um olhar que retorne sentimento, carentes de abraço, de beijo, de “bom dia” e “boa noite”. A cada dia, ficamos menos gente, vivemos menos amor, ao passo que nutrimos uma falsa e tola esperança de o outro vá mudar – porque a gente já mudou tanto por ele…

Inevitavelmente, chegaremos a um ponto em que já teremos tentado de tudo, já teremos avisado repetidamente, mostrado, já teremos gritado exaustivamente, até terem sido esgotadas todas as forças, todas as possibilidades, todo e qualquer caminho, toda e qualquer tentativa. Sem ânimo, alquebrados, aniquilados emocionalmente, sem ter onde agarrar, tomaremos, então, consciência de que é chegada a hora de sair daquilo tudo, de praticar o adeus, o nunca mais.

Quando ainda amor houver, quando o sentimento ainda estiver ali, sufocado pelo cotidiano, mas disposto a reavivar-se, sempre deveremos tentar e lutar pela manutenção do que já construímos a dois. Entretanto, se somente existe vida de um lado, mesmo após as súplicas e insistências de um só, ali o amor não mais florescerá, pois não há mais cor que se instale em terreno infértil, onde não se semeia reciprocidade.

Não esquecer: ainda há muito pela frente a ser vivido com alguém que realmente lhe dê as mãos e volte os olhos para você. Acredite!

Imagem de capa: Matthew Nigel/shutterstock

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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