Viver é muito perigoso. Sobretudo porque, em geral, somos criados e educados segundo códigos que tratam a vida como algo que possa ser completamente planejado e moldado de acordo com nossos desejos, necessidades ou anseios acalentados. Não é! Se tem uma coisa que a vida não respeita, essa coisa se chama “planejamento”.
Somos extremamente tendenciosos a comprar ideias que nos acenam com soluções mágicas para toda a sorte de obstáculos ou transtornos. Ora, quantos de nós já não sonhou com uma pílula mágica para organizar nosso metabolismo de tal forma que pudéssemos comer e beber tudo que nos desse na telha e ainda assim não engordar, não ser assombrado por taxas perigosas de mau colesterol ou glicemias alteradas? Quem de nós nunca fantasiou a possibilidade de ter um clone que nos representasse no trabalho ou na escola, enquanto ficamos em casa ou passeamos por aí? Quem de nós nunca imaginou a sorte de aprender, sem fazer nenhum esforço, todas as milhões de toneladas de conhecimentos inúteis a que somos apresentados na escola?
Não, não é proibido sonhar, fantasiar ou imaginar. Aliás, sem esses elementos mágicos e invisíveis, a realidade ficaria insuportável. Pobre daquele que faz de sua vida um deserto árido e inóspito, povoado de obrigações, expectativas e tarefas mecânicas. O sonho, o desejo e a fantasia nos colocam num outro patamar na aventura de existir. Sem essas motivações, somos pouco mais que um daqueles bonecos infláveis de posto de gasolina que ficam se debatendo graças a um sopro de ar artificial que os preenche por dentro de algo que não se pode ver, tocar ou guardar na memória.
Acontece que o imprevisível é exatamente igual a qualquer outra coisa nessa vida, tem muitas e inexplicáveis faces que vão se misturando e constituindo a nossa realidade, seja ela nosso sonho idealizado, algo tão medíocre que não nos assusta nem excita ou, o pior de nossos mais horrorosos pesadelos.
E, por incrível que pareça, até os mais temíveis pesadelos têm uma função importante em nossa vida. Pesadelos mexem com alguma coisa lá no fundinho de nossas emoções. Despertam a gente para enfrentar o perigo, esfriam ou fazem ferver a água morna que nos entorpece quando estamos muito acostumados às nossas “seguras rotinas”. Pesadelos fazem a gente buscar outra coisa, sair daquele lugar, sacudir certezas e arriscar saídas que antes pareciam imponderáveis.
Então, se o seu pior pesadelo virou realidade, acorde! Agradeça a oportunidade de enxergar na dor, na perda ou no furacão que devastou suas conquistas, verdades e certezas, algo que o leve a outra viagem, outro jeito de sentir e construir hipóteses para uma nova experiência. De repente, imagine uma nova história. A caneta que vai produzir o roteiro da sua vida está nas suas mãos. Quem sabe, dessa vez você não seja capaz de entender que roteiros são apenas uma parte de todo o resto, todo o resto que vem com a deliciosa liberdade de abraçar a sorte de se reinventar, todo santo dia!
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