Fabíola Simões

Se uma pessoa trata você como se não desse a mínima, ela genuinamente não dá a mínima

A maioria de nós já se apaixonou. Foi correspondido. Achou que era correspondido. Foi rejeitado. Achou que poderia dar certo e não deu. Amou e foi amado. Achou que seria pra sempre e não foi. A maioria de nós já foi vítima dos próprios enganos, da própria necessidade de se sentir amado mesmo quando não havia sinais de amor, da própria vontade de dar certo mesmo quando não havia certeza de nada.

A maioria dos relacionamentos é precedida por um período de dúvidas e suposições. Enquanto sentimos o coração acelerar e as pernas bambearem, nos perguntamos se será ou não pra valer. Ainda não há sinais nem certezas que garantam a permanência, o vínculo, a solidez. Mas ainda assim, pouco a pouco afrouxamos nossas defesas e, conscientes ou não, nos tornamos vulneráveis ao que o outro sente por nós. Se somos correspondidos, bingo! Se não, a história se complica.

Estar vulnerável aos sentimentos de outra pessoa é uma das piores sensações que existem. Pois nessa situação ficamos dependentes de um sinal, de um emoji banal no whatsapp, de uma frase clichê no Facebook, de um comentário suspeito numa página em comum… para nos sentirmos bem. Nada mais tem sentido se aquela pessoa está quieta, sem comunicar nada, sem dar a mínima. Nos agarramos a pequenos indícios de interesse e tentamos encaixar as peças de um quebra cabeça que não se completa.

Agora preste atenção. Existe um sinal que nunca deveria ser desprezado. Um sinal que deveria ser levado em consideração a qualquer hora, em qualquer circunstância: “Se uma pessoa trata você como se não desse a mínima, ela genuinamente não dá a mínima”. E você precisa aprender a enxergar isso com clareza. A aceitar isso com convicção e firmeza. A colocar limites para seu espírito sonhador e coração de manteiga. Porque se você não entende isso, se conta mentiras para si mesmo várias vezes ao dia e tem necessidade de fazer castelinhos com as migalhas que recebe, está faltando respeito por si mesmo. Está faltando maturidade para aceitar que as coisas são como são, o resto é só divagação pra iludir o coração.

Se uma pessoa some, responde mensagens longas com um simples sinal de “joinha”, não te procura, ignora sua presença e age como se nunca tivessem tido algo em comum, essa pessoa não tem o mínimo interesse em você. E mesmo que de vez em quando ela oscile o comportamento e dê sinais vagos e esperanças miúdas de mudança, nunca, jamais, de forma alguma caia nessa.

Ok, você diz. Mas como a gente faz para esquecer?

Esquecer alguém que se ama não acontece da noite para o dia, num estalar de dedos. Esquecer começa com a vontade de colocar um ponto final e o empenho em não olhar pra trás. Mas também requer respeito pelos próprios sentimentos, que vez ou outra podem resgatar uma saudade. Porque no fundo a gente nunca esquece completamente. O que acontece é que a lembrança vai ficando menor, distante, apagada… mas de qualquer jeito, sempre presente em nossa vida. E vamos ter que conviver com isso, entendendo que alguns amores funcionam melhor quando são só saudade.

A maioria de nós já foi vítima dos próprios enganos, da necessidade de se sentir amado a todo custo, de insistir num buraco sem fundo, de tentar salvar um barco que se afunda. Mas chega uma hora em que é preciso dar um basta. Entender que, se um sapato não está te servindo, ele genuinamente não é para você. E com isso sentir-se pronto para recusar o que te fere e abraçar o que te faz bem.

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Imagem de capa: Vadim Georgiev / Shutterstock

Fabíola Simões

Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.

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