Eu tenho uma grande amiga que sempre anda muito bem vestida (ela é uma pessoa lindamente elegante de diversas formas). Certa vez, quando perguntei como ela conseguir sempre estar tão bem (ao contrário de mim que estava sempre meio relaxada… rs) ela me disse que, desde pequena, ouvia de sua mãe:
“Filha, você é negra, e por ser negra você sempre precisará se comportar muito bem e sair muito arrumada para que ninguém ache que você é uma criança sem família”.
Eu nunca me esqueci desse relato porque ele me mostrou algo pelo qual eu jamais passaria: muitas pessoas têm, desde o nascimento, que provar que merecem respeito pelo “simples” fato de terem mais melanina na pele.
As pessoas têm dificuldade em compreender o que é ser um “privilegiado” dentro de um país tão desigual como o nosso. Muitas vezes, por terem acesso a serviços que, dentro de seu contexto de vida consideram básicos, pensam que aquilo é algo homogêneo para todo mundo. É aquela velha tendência de olhar o mundo a partir de suas próprias experiências achando que seus próprios problemas são os maiores do mundo. Mas a coisa não é bem assim.
Para ajudar a ampliar esse olhar, adaptei uma lista baseada em um questionário do Buzz Feed e em algumas perguntas do Alex Castro . O resultado disso é uma sequencia de afirmativas que indicam que você pode ser ou não um privilegiado. (mesmo que não tenha a menor ideia de que o é.)
( ) Eu sou branco(a).
( ) Nunca fui discriminado(a) por causa da cor da minha pele.
( ) Nunca fui a única pessoa da minha cor em um recinto.
( ) Nunca me disseram que sou atraente “para alguém da minha raça”.
( ) Nunca fui vítima de violência por causa da minha cor.
( ) Nunca fui vítima de ofensa racial.
( )Uma pessoa estranha nunca pediu para tocar no meu cabelo ou perguntou se ele era de verdade.
( )Minha família e eu nunca vivemos abaixo da linha de pobreza.
( )Não estou pagando nenhum empréstimo.
( )Nunca fui dormir com fome.
( )Nunca fiquei desabrigado(a).
( )Meus pais pagam algumas das minhas contas.
( )Eu não dependo de transporte público.
( )Compro roupas novas pelo menos uma vez por mês.
( )Nunca tive de me preocupar com não ter dinheiro para pagar o aluguel.
( )Nunca trabalhei como garçom/garçonete, atendente ou vendedor/vendedora.
( )Pude aceitar um estágio não remunerado.
( )Estudei em escola particular.
( )Eu me formei no ensino médio.
( )Eu me formei na universidade.
( )Eu não sei o que é FIES.
( )Meus pais pagaram (pelo menos algumas das) minhas mensalidades na universidade (ou algum custo envolvendo meu ensino superior).
( )Eu tinha um carro na faculdade.
( )Nunca tive que dividir quarto com ninguém.
( )Sempre tive TV a cabo.
( )Já viajei para o exterior.
( )Nunca deixei de me alimentar para poupar dinheiro.
( )Tenho milhas de viagem.
( )Posso comprar medicamentos se/quando for preciso.
( )Nunca menti sobre minha etnia como meio de autodefesa.
( )Eu nunca ouvi esta frase: “Você foi aleatoriamente escolhido(a) para o controle de passaporte”.
( )Tenho plano de saúde particular
( )Posso viajar por conta própria pelo mundo sem sofrer restrições legais, e sem sentir medo de assédio ou violência sexual, dê um passo à frente.
( )Os seguranças de estabelecimentos comerciais já me seguiram mais de uma vez
( )Nunca teve que trabalhar para ajudar família durante ensino médio ou superior
( )Você se sente confortável de andar por conta própria pelas ruas dos bairros onde vive e trabalha, dê um passo para frente.
( )Nunca teve um apelido baseado em sua raça.
( )Havia diversos livros na casa onde cresceu
( )já conseguiu emprego por amizade, parentesco ou indicação pessoal
Resultado: esse não é um teste científico, mas se você tiver marcado mais de 20 “sins” já pode se considerar privilegiado uma vez que TODAS AS PERGUNTAS acima são indicativas de privilégios.
Para concluir, eu gostaria de dizer que ninguém precisa ter vergonha por ser privilegiado. Essa, definitivamente, não é a questão. O que o questionário visa mostrar é que, quanto menos contato uma pessoa tem com situações de exclusão e humilhação, menos ela será capaz de perceber a existência das mesmas.
O privilégio, de maneira geral, diminui a empatia porque a pessoa pode “ter a impressão” de que quem reclama por direitos e respeito está exagerando ou querendo chamar a atenção. Afinal, aquilo nunca aconteceu com ela. Mas, na maioria das vezes quem nega o racismo pode apenas ter sido “protegido” da verdade. Ou, o que é também é bem provável, pode ter presenciado muitas e muitas cenas, mas ter achado tudo normal (ou até mesmo engraçado) porque o racismo está na estrutura de nossa sociedade.
Lembre-se: ser tratado, desde a nascença, de forma humilhante e desigual deixa marcas profundas e ninguém que não passou por essa dor jamais poderia se julgar no direito de diminuí-las e muito menos negá-las.
Eu sou uma autora branca e privilegiada, mas ter alguma noção do que acontece longe do meu umbigo jamais me permitirá fechar os olhos para a minha obrigação pública de ajudar outras pessoas a entenderem a desigualdade. Talvez seja a sua vez de também conhecer verdades que não são necessariamente as suas.
Abraços carinhosos,
Josie Conti
Ps: Esse tema te interessa? Leia também Quando você diz que ‘todas as vidas importam’ você nega a existência do racismo
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